Cartas de Uma Morta

CAPÍTULO 90

NO ANTIGO EGITO



Relacionei-me com a existência do sacerdote em apreço e senti as suas impressões no instante em que formulara a sua rogativa. . . Vi ao meu lado a grande pirâmide e não muito longe divisei o vulto da esfinge gigantesca no deserto de areia, porém não trazia em si o vestígio do tempo e das tempestades. Sobressaía do seu aspecto imponente, grandioso, o esplendor das eras faraônicas. . . Lobriguei no corpo majestoso da pirâmide uma porta lateral, onde penetrei acompanhando aquele sábio egípcio em suas meditações profundas; atravessei corredores sinuosos e câmaras escuras, repletas de ar sombrio, como se fossem povoadas de espectros ameaçadores.

Chegada a certa altura, desci por caminhos tenebrosos, onde haviam os maiores perigos para uma alma encarnada; símbolos terríveis se apresentavam àquele iniciado e admirei a coragem desse homem de nervos férreos, que não temia a sombra, a ameaça e a morte.

Através de peripécias inenarráveis, chegamos a um templo subterrâneo de regulares proporções, entre cujas paredes se abrigavam muitos homens silenciosos, bizarramente trajados. Eu vi, porém junto deles muitos seres espirituais; e dentre os presentes destacava-se a figura majestosa e complacente de um velho que, certamente, era o supremo hierofante ou grande sacerdote da comunidade. Vi-o estender os braços horizontalmente, pronunciando palavras num idioma para mim ininteligível mas das quais pude alcançar a essência, penetrando-lhe o pensamento.