Cartas do Evangelho

CAPÍTULO 9

CARTA AOS CEGOS



Casimiro Cunha

Na romagem dolorosa Da vida de provação, Também trazia os meus olhos 1guais aos teus, meu irmão.

Mas, se a estrada era obscura, Se a noite era tão sombria, Guardava, como tu guardas, As vibrações de alegria.

É que, entre as sombras terrestres, Na tua meditação, Sabes ver os resplendores Das luzes da redenção.

Talvez que de olhos sadios Deixastes o teu sensório Perder-se pelo caminho Do sentimento ilusório.

Todo aquele que recebe A provação da cegueira, Sabe orar, sabe esperar, Vendo a vida verdadeira.

Não percas a tua fé.

A crença é a grande conquista De quem resgata no mundo O abuso dos dons da vista.

Guarda a esperança em Jesus, Na dor, não te desanimes. . .

A cegueira é o resultado De muitos dos nossos crimes. . .

Nos tempos que já se foram, Muitos de nós, meu irmão, Fomos verdugos terríveis, Plantando a desolação.


Os grandes desvios d

'alma, No erro amargo e mesquinho, São reparados na sombra Que nos envolve o caminho.

A cegueira é uma estação De corrigenda ou de cura, Onde o espírito se aclara Visando a estrada futura. . .

Portanto, as horas de sombra, No curso de uma existência, São nossa reintegração No amor e na inteligência.

Meu amigo, continua Alegre na fé, no amor;

Quem não sente a Luz de Deus É um cego mais sofredor.

Também fui cego do corpo, Na senda de expiação, Mas nunca guardei comigo As trevas do coração.

Depois das sombras espessas Nas lutas da humanidade, Verás a alvorada eterna Da luz da Imortalidade.