Cartas do Evangelho

CAPÍTULO 16

CARTA AOS INTELECTUAIS



Casimiro Cunha

O tempo estranho que passa, Uma nota de amargura É a penosa decadência Dos bens da literatura.

Explora-se no extremismo A senda espinhosa e vã.

Assim como no cinema, Todo o mundo quer o "fã".

Vais mal, amigo, se vais Nas tristes explorações, Difundindo a sombra espessa Dos erros e das paixões.

Pululam, por toda a parte, As notas sensacionais, Amargurados venenos De alguns intelectuais.

Entretanto, meu amigo, No mundo, como ninguém, Tu podes criar nas almas Toda a tendência do bem.

Podes dar à evolução Um grande sentido novo;

De ti, muita vez, dependem O governo, a classe, o povo.

Teu erro é dar preferência À mentira em que te cobres.

A hipocrisia entorpece As faculdades mais nobres.

Acautela-te no esforço.

Cada artigo publicado É um reforço na balança Pela qual serás julgado.

Um livro que veicule A treva, o crime, a paixão Pode exigir-te um resgate De séculos de aflição.

A justiça do infinito, Na grandeza que ela encerra, Tem também um tribunal Que julga os livros da Terra.

Juízes retos e nobres Sabem todos os teus feitos, Mais tarde tu ganharás Ou sofrerás seus efeitos.

A palavra é um dom sagrado.

E a ciência da expressão Não deve ser objeto De mísera exploração.

Põe tua pena a serviço Da grande causa do bem.

Vive a verdade e o direito, Terás o auxílio do Além.

Se há veneno em teus escritos, Meu amigo, volta atrás.

Organiza o teu futuro No santo esforço da paz.