Cartilha Da Natureza. A Criação

CAPÍTULO 59

O BARRICACHO



Casimiro Cunha

Por vezes, na atividade Das viagens, do transporte, O animal em disparada Promete desastre e morte.

Por mais que sustenha a rédea E colabore o cocheiro, Em tudo, paira a ameaça De rumo ao despenhadeiro.

Trabalhos imprescindíveis Sofreriam dilação, Se o condutor não agisse Com firmeza e precisão.

Antecipando o terror Da descida, abismo abaixo, O montador ou o cocheiro Recorrem ao barbicacho.

Reage o animal teimoso, Rebela-se e pinoteia, Mas tudo cessa de pronto, Na apertura da correia.

Se busca saltar de novo Sob fúria mais violenta, Eis que lhe vaza a boca Espuma sanguinolenta.

De queixo posto no entrave, Qualquer coice dado a esmo, Se pode ofender os outros, Dói muito mais nele mesmo.

Em pouco tempo o rebelde, Agora sem mais descanso, Trabalha tranquilamente Humilde, bondoso e manso.

Assim, também muita gente Em falsa compreensão, Ao invés de trabalhar, Faz queixa e reclamação.


* * *

Contudo, à beira do abismo, Antes da queda ao mais baixo, Recebem os linguarudos As bênçãos de um barbicacho.