Cartilha Da Natureza. A Criação

CAPÍTULO 66

O CIPÓ



Casimiro Cunha

Sobre a árvore frondosa Que mostra calma infinita, Abraçada ao tronco forte Lá se vai o parasita.

Não atinge o cerne, a seiva, Mas buscando a copa, as flores, Enrodilha-se, teimoso, Nas cascas exteriores.

Agarrado tenazmente, Vai subindo vagaroso, Alcançando o cume verde Do arbusto generoso.

Aboletados nos cimos Do castelo de verdura, O cipó audacioso Aparenta grande altura.

Deita flores opulentas De expressão parasitária, Avassalando a nobreza Da árvore centenária.

Recebe os beijos do sol, Embala-se na ternura Da carícia perfumosa, Da brisa mais alta e pura.

Mas, vem o dia em que o Pai, Na lei de renovação, Chama o tronco nobre e velho As bênçãos da mutação.

É aí que o cipó vaidoso Demonstra o que não parace, Voltando ao pó do chão duro, Para as zonas que merece.

Quanta gente brilha ao alto, E, no fundo, inspira dó?

Há milhões de criaturas Vivendo como o cipó.


* * *

Jamais olvides a lei De trabalho e obrigação, Não queira mostrar-te ao alto À custa do teu irmão.