Casemiro de Abreu Em marcha laboriosa, No sulco amplo e sombrio, Profundo e silencioso Eis que passa o grande rio.
Ao seu seio dadivoso, Afluem fontes da serra, Ribeiros de níveis altos, Detritos de toda terra.
O rio mais elevado Desce os montes à procura De sua paz generosa Na marcha calma e segura.
Por saber harmonizar-se Nos bens do mais baixo nível, Conserva toda a imponência Da grandeza indefinível.
É ele quem leva ao mar As águas dos continentes.
É pai das economias De todo o humano labor, Mas quase ninguém se lembra Dessa dívida de amor.
Que importa, porém? O mundo É o homem que esquece e cai, Sem ver a missão do bem, Nas bênçãos do próprio Pai.
O grande rio conhece A luz desse imenso arcano Sobre o nível mais humilde Busca a força do oceano.
Assim também a alma grande, Nas últimas posições, Recebe as ânsias de paz De todos os corações.
Em dores silenciosas, É o grande rio que vai, Dando o bem a todo o mundo, Em busca do amor do Pai.