Cartilha Da Natureza. A Criação

CAPÍTULO 89

O PRATO



Casimiro Cunha

Dentre as coisas mais singelas Do lar carinhoso e grato, É justo reconhecer A doce lição do prato.

Esperando calmamente Comensais, em torno à mesa, Exemplifica, bondoso, A ternura e a gentileza.

Primoroso companheiro De humilde e de atenção, Por servir a quem tem fome Aguarda o partir do pão.

Satisfaz a toda gente, Sem sombras de vaidade, Não olha conveniência, Atende à necessidade.

Por vezes, o comensal, A quem o vinho estimula, Entrega-se à embriaguez, À licença, ao crime, à gula.

Mas o prato está sereno, Por fazer e obedecer, Permanece em seu lugar, Submisso ao seu dever.

Em geral, servem-se dele, Sem qualquer preocupação;

Pouca gente lhe dedica O amparo da gratidão.

E se o prato, certo dia, Conhece o aniquilamento, Não é por ele, é por nós, No campo do esquecimento.

Neste símbolo singelo De obediência e bondade, Sentimos a lei que rege O espírito da amizade.

Conserva teu amigo, Guarda a luz que recebeste.

Não desrespeites na vida O prato onde comeste.