Casimiro Cunha
Quando passes no meu caminho Dando luz ao pensamento, Não deixes de meditar Na doce missão do vento.
Quem lhe imprimiu tanta força?
Donde vem? De que maneira?
Parece o sopro do céu Alentando a sementeira.
Une as frondes amorosas, Acaricia a ramagem, É um fluido caricioso Amenizando a paisagem.
É o mensageiro bondoso Da alegria e da abundância, Trocando os germes da vida, Vencendo a noite e a distância.
De outras vezes é um amigo Com fraternas exigências, Que pratica nos caminhos Profundas experiências.
Se a flor é infiel à seiva Que lhe deu força e guarida, O vento condu-la ao chão, Só deixando a flor da vida.
Seu papel na natureza Vai da vida à seleção, Permutando os germes puros Das sementes de eleição.
Também, na vida da Terra, A função do sofrimento Parece identificar-se Com os fins da missão do vento.
Troca ele as nossas almas, Mata as flores da ilusão, Refunde os nossos valores Em nova fecundação.
O turbilhão de amargores É mais vida envolta em véus Povoando a nossa estrada Com os germens da luz dos céus.