Escrínio de Luz

Capítulo XXXIX

Ajudemos o inimigo




“Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem…” — JESUS (Mt 5:44)


Tão necessário se faz o auxílio espontâneo aos inimigos, na preservação de nossa paz, quão imprescindível se torna a remoção apressada de um foco infeccioso, à nossa porta, a benefício da nossa própria saúde, visto que, alimentar o adversário, é manter um núcleo de raios destruidores contra nós.

Todos somos distribuidores de cargas eletromagnéticas, geradas em nosso próprio ser.

A simpatia é corrente de auxílio que estendemos em nosso favor.

A antipatia é força asfixiante que lançamos em prejuízo próprio.

Toda energia projetada de nossa alma nos responde invariavelmente na reação de quem nos partilha as experiências.

Quem arremessa espinhos, improvisa chagas, cujas emanações lhe procuram a atmosfera pessoal.

Quem semeia flores, recolhe o perfume da cooperação e da boa vontade.

Claro que não podemos tratar todas as situações com elixires de pétalas adocicadas, porque, muita vez, a nossa melhor energia é convidada ao serviço sacrificial e quase sempre incompreendido da defesa; entretanto, ainda mesmo nas horas mais difíceis convém mobilizar todos os recursos do bem, ao nosso alcance, para que o respeito não ceda lugar à revolta e para que a sinceridade amiga não se converta em disfarce injusto.

Instalemos, dentro de nós, o legítimo discernimento que reconhece cada criatura em seu lugar e cada acontecimento no minuto que lhe é próprio. Protegidos por semelhante entendimento, não aguardaremos uvas do espinheiro, nem pediremos as graças da colheita ao campo que apenas exibe promessas de sementeira.

Quando a treva se desdobra em torno de nossos passos, não vale vociferar contra as sombras ou persegui-las inutilmente. Bastará acender uma luz para que a estrada se descortine novamente à visão.

Assim, pois, evitemos o cultivo do espinheiral magnético na infeliz manutenção de adversários que podemos relegar ao esquecimento, quando, de imediato não lhes possamos confiar o cântaro delicado do nosso amor.

Usemos o silêncio, a desculpa e a compreensão, com exemplo vivo do nosso próprio esforço na edificação do bem e o tempo se incumbirá de tudo transformar, em auxílio de nossa felicidade, dentro dos imperativos inevitáveis da constante renovação.