Escrínio de Luz

Capítulo LVI

A incógnita do Além



Meus amigos, Deus vos conceda muita paz espiritual no caminho diário.

Conheço a ansiedade com que muitos de vós outros batem às portas da revelação; sei de vossas aspirações e já experimentei vosso desejo infinito.

O homem defrontará sempre a incógnita do Além-túmulo, tomado de indizíveis angústias, quando se distancia do alimento espiritual, matéria prima da vida externa. É o que ocorre no cenário de vosso século, repleto de acontecimentos de profunda significação científica e filosófica, cercados de realizações, da máquina e empolgados de ideologias políticas; permaneceis à beira de abismos que solapam os séculos laboriosos de realizações.

O homem moderno cresceu em suas realizações puramente intelectualísticas avançando no domínio das organizações materiais entretanto, por traz de muralhas de livros, ao longo de códigos pacientemente elaborados, à sombra de laboratórios, a inteligência da criatura se esconde para preferir a morte. A ciência que devassou desde o subsolo à estratosfera, manifesta a sua impossibilidade de dominar o vulcão mortífero. Vinte séculos de pensamento cristão não bastaram. Milhares de mensagens da Providência Divina, convertidas em utilidades para a civilização de nossos tempos sopitaram os novos surtos de devastações e misérias. Não lamentamos porém. Apenas nos referimos à semelhante derrocada para exaltar a grandeza da experiência espiritual.

O homem econômico de nossas filosofias atuais não pode subsistir no quadro da evolução divina. O homem é Espírito antes de tudo. A Terra é a nossa escola milenária, aguardando resignadamente a nossa madureza de sentimentos.

É por isto que acorrestes à presente reunião, em vossa maioria tangidos pelo desejo de auscultar o desconhecido. É por isto que esperáveis expressões fenomênicas que vos modificassem inteiramente. No fundo, meus amigos, desejais a fé, quereis tocar a certeza. Entretanto, a curiosidade não pode substituir o trabalho perseverante e metódico. Nenhuma técnica profissional por mais singela pode-se eximir de cultores da experiência sentida e vivida.

Alguns dentre vós formulais indagações mentais enquanto outros aguardam manifestações que firam as percepções externas. Todavia, apesar do desejo de vos atender particularmente, não seria possível quebrar a lei universal da iniciativa de cada um no campo do livre arbítrio que nos rege os destinos. Vossa ansiedade palpita em todo mundo. A humanidade suplica expressões novas que lhe definam as diretrizes para o Mais Alto e vossos corações permanecem cansados do atrito despensivo. Sois, de modo geral, os viajores que extenuados do caminho árido começam a indagar as profundezas do céu, tendo sempre uma resposta para quantos o contemplam, convictos de que a vida é testemunho de trabalho, de realizações e de confiança. Nenhuma elevação se verificará sem o esforço próprio.

É por este motivo que as ideias religiosas antigas, embora respeitáveis pelas mais sublimes tradições, não mais satisfazem. Os templos de pedra deixam exalar ainda o incenso da poesia, mas as novas esperanças pedem esclarecimentos concretos e roteiros precisos.

Sim, nossa sede é justa. A fonte, porém, ainda é aquela que o Mestre nos trouxe há dois mil anos.

Procurai esta água da vida eterna. Não vos deixeis dominar tão somente pela ânsia que às vezes é doentia.

Procurai de fato conhecer. Não vos restrinjais ao campo limitado da curiosidade. Toda curiosidade é boa quando conduz ao trabalho.

Recebei, portanto, os serviços de Deus, em vós mesmos. Vosso coração e vossa inteligência constituem a grande oficina. Aí dentro operareis maravilhas desde que não condeneis vossas melhores ferramentas de observação e possibilidades de serviço à ferrugem do esquecimento.

Que a vossa curiosidade seja um marco útil na estrada da sabedoria. Continuai no vosso esforço lembrando que se viestes hoje bater à porta do Mais Além, o Mais Além respondendo vem bater igualmente às vossas portas.