Entender Conversando

Capítulo II

Presença de Deus



Hoje, Francisco Cândido Xavier é candidato pelo Brasil ao Prêmio Nobel da Paz. Ele merece, pois todos os direitos autorais de seus livros são doados para suprir as necessidades de diversas instituições filantrópicas espalhadas por toda Federação.

No dia dezenove do mês passado, partimos para Uberaba com o propósito de entrevistar aquele que é candidato como um dos maiores líderes espirituais de nossa terra.

Na íntegra, a entrevista:



— Não, não acredito que esteja perdendo o significado, porque de ano a ano todos os cristãos se reúnem, num pensamento só, no reconhecimento e na glorificação de Jesus-Cristo, como sendo o embaixador da paz e do amor na redenção da Terra. É possível que com o aumento da população na cidade, com a explosão demográfica, muita gente esteja ainda despercebida do Natal; mas o Natal continua ainda dominando o coração das criaturas.


— A necessidade de nos amarmos uns aos outros, segundo Jesus nos ensinou, o perdão das ofensas o esquecimento das injúrias, o cultivo do trabalho, a fidelidade ao dever, a lealdade aos compromissos assumidos, o lar, a família, a alegria de nos pertencermos uns aos outros, através dos laços da fraternidade. Isto tudo é Natal. É nossa mãe, nosso pai, mesmo quando estejam no Plano Espiritual. Natal representa nossos irmãos muito queridos, ainda mesmo aqueles que não se encontrem conosco. É muito amor, muita saudade, mas é sobretudo muita união para que se faça o melhor em cada Novo Ano que aparece.



— Nós devemos esperar aquilo que nós mesmos fazemos… Vamos pedir a Deus que o nosso povo se compenetre de suas responsabilidades e que nós amemos as nossas obrigações e o serviço que Deus nos deu. Isso só pode somar bons resultados…



— É que estamos em tempo de renovação muito grande, com problemas gigantescos a resolver; as religiões trabalhando de comum acordo para que atendamos às novas concepções em torno da existência de Deus. Eu não vejo os problemas da atualidade como sendo ausência de Deus; mesmo porque quando a comunidade tenta se distanciar de Deus, ocorrem fenômenos que obrigam esta mesma comunidade ao retorno do pensamento voltado para Deus.

Na última Grande Guerra, muitas comunidades europeias que diziam ser materialistas, quando bombardeadas, quando dilapidadas pelos processos da guerra, elas voltaram de novo aos templos e oraram, pedindo a benção de Deus em favor da própria sobrevivência. Então o homem, nesta marcha em que vamos, e que muitos de nós parecemos marginalizados, parecemos marginalizados diante das ideias cristãs; isto tudo é ocorrência excepcional. Na realidade, no íntimo, todos sentem necessidade de Deus.



— O fundador do Evangelho foi crucificado. Eu acredito que diante desta verdade, o Brasil não pode ter privilégios. Então devemos esperar acontecimentos muito sérios…

Agora, o problema no Brasil, pessoalmente, opinião minha, o que deveria ser faceado pela comunidade brasileira como um dos problemas mais sérios é o problema do trabalho. O amor ao trabalho e a fidelidade ao cumprimento do dever. Se nós todos trabalharmos, se carpirmos a terra, se construirmos, se lidarmos com a pedra, com o barro, com a sementeira, com os fios; se tecermos; se todos nós nos unirmos para criar valores em nosso benefício, a pobreza deixará de existir.

Mas, enquanto alguns trabalharem e muitos outros não quiserem trabalhar, o problema não será resolvido. Este problema não é de fortuna. Todos somos ricos… Todos nós nascemos, pelo menos nos casos normais, com um corpo, que pode trabalhar, que pode servir, que pode ser manejado para o bem; esta é a verdadeira riqueza. Um homem pode possuir milhões, mas, se está atacado pelo câncer, por exemplo, ele sente que a riqueza dele é o corpo…



— … Não, isto não. Isto é um problema debatido por pessoas que se fixam na Lei da Reencarnação só para observar essa face da Lei da Reencarnação. Mas, a nossa obrigação é melhorar tudo; se temos uma enxada e esta enxada precisa de conserto, devemos consertá-la, devemos afiá-la novamente para que possamos ser felizes em nossas tarefas. Agora, não podemos nos alhear à necessidade de viver nossa vida como deve ser vivida. Esta história que os ricos oprimem os pobres eu acredito nisso; mas porque todo mundo, se quiser, pode trabalhar, mesmo com as leis coercitivas, que marginalizam o homem de 45/50 anos; se a pessoa quiser trabalhar tem serviço de limpeza, tem serviço de higiene, serviço de cultura, de culturas diversas, aos quais a criatura pode se vincular, trabalhando e ganhando um vencimento razoável. Agora, enquanto nós quisermos ganhar como os grandes técnicos, como os que alisaram bancos acadêmicos; acenando que um salário mínimo, dois salários mínimos, que tudo isto é muito pouco, que somos miseráveis… Assim, não é possível encontrar felicidade.



— Este avanço não é construtivo e sofrerá, naturalmente, uma poda no tempo oportuno. Mas, este avanço tem o tamanho da opressão que o homem exerceu sobre a mulher durante muitos séculos. Então, agora veio o segundo tempo do jogo… Tanto deve ser responsável um como o outro…



— Esta gente toda é maravilhosa… Se eu pudesse iria pessoalmente muita vezes durante o ano a Mogi Mirim, Itapira — àquelas cidades maravilhosas, onde a gente encontra tantos corações acolhedores, proporcionando felicidades aos visitantes.

Em Mogi Mirim, tivemos um grande amigo… o Sr. Juca Andrade, que partiu para a Vida Espiritual, há pouco tempo. Eu reverencio, na pessoa dele, a população toda de Mogi Mirim, de todas as confissões religiosas, porque nós todos estamos irmanados pela mesma fé em Deus, pela mesma confiança em Jesus-Cristo. Então, eu reverencio neste homem, que foi um modelo de paciência e caridade, o meu respeito e minha admiração por Mogi Mirim, que está ali entre o Rio Atibaia e o Rio Mogi Guaçu, brilhando sempre como uma joia; não só de São Paulo, mas do Brasil inteiro. Isto não é fazer demagogia, não… É porque a gente gosta mesmo de vocês…