NARRADOR. — O líder espiritual de milhares e milhares de pessoas, — o homem que mudou totalmente a imagem dos sensitivos, dos paranormais, e até mesmo diante de gente de outras religiões, teria anunciado, na linguagem dos espíritas, que chegou a hora de desencarnar. Os amigos de Chico desmentem, ele nunca disse isso. E o repórter Nei Gonçalves Dias mostra esta noite como está Chico Xavier.
NEI — Aqui em Uberaba, Minas Gerais, Francisco Cândido Xavier, Chico Xavier, um dos mais famosos médiuns do Brasil, nos últimos 52 anos tem recebido ininterruptamente milhares de pessoas, pessoalmente e por correspondência. Agora diminuiu sensivelmente as suas atividades, estritamente por determinação médica.
O estado de saúde de Chico Xavier, talvez o mais famoso médium brasileiro, está preocupando muita gente. Chegaram a publicar, inclusive, recentemente, que o coração de Chico Xavier está parando. Ninguém melhor para falar nesta noite no Fantástico sobre a saúde de Chico Xavier do que os médicos que estão cuidando de Chico Xavier.
O Dr. Eurípedes Tahan Vieira é o porta-voz da junta médica que há algum tempo vem se dedicando aos cuidados médicos dispensados ao médium Chico Xavier.
— Dr. Eurípedes, como está a saúde do médium Chico Xavier?
DR. EURÍPEDES — Eu, mais outros médicos cardiologistas, viemos dispensando um tratamento ao Chico Xavier, com relação à sua doença, que se trata da insuficiência das coronárias, em outras palavras, de crises de angina, desde 1974.
NEI — Mas, no momento, atualmente, como está a saúde do Chico em função de seu trabalho, de suas atividades?
DR. EURÍPEDES — Atualmente as suas tarefas foram restritas, restringidas; uma vez que ele necessitava de determinados cuidados, restringimos suas atividades para que pudesse melhorar o seu estado de saúde. Mas, de uma maneira geral, vai tudo relativamente bem.
NEI — Dr. Eurípedes, o Chico é um paciente que dá muito trabalho porque tem muitas atividades filantrópicas, mediúnicas, espirituais. E, mesmo, a gente sabe que tem 150 livros escritos e pretende chegar aos 200 livros. E as atividades são sempre muito excessivas. E difícil cuidar do médium Chico Xavier como paciente?
DR. EURÍPEDES — Num aspecto é porque ele, Chico Xavier, insiste em atender, uma vez por semana, centenas e milhares de pessoas que vêm a Uberaba recolher uma palavra amiga; e, mesmo também quando ele dá assistência aos necessitados, aos doentes, uma vez por semana, uma vez que nós restringimos suas atividades. Quanto ao outro aspecto, aspecto de tomar medicamentos, não; ele é realmente um dos bons pacientes que temos, como os outros colegas acreditam, uma vez que ele toma religiosamente seus medicamentos na hora certa. O nosso povo brasileiro, os nossos amigos, podem ficar tranquilos uma vez que Chico está sob cuidados médicos e seguindo a orientação médica que possa lhe trazer o de melhor para a saúde.
NARRADOR. — Chico Xavier está proibido pelos seus médicos de dar entrevistas e de se dedicar a não ser exclusivamente aquilo que ele possa fazer de atendimento, para a preservação de sua saúde. Mas, a última entrevista concedida por Francisco Cândido Xavier na TV foi para o Programa Fantástico. Uma entrevista inédita, um verdadeiro testamento espiritual de Chico Xavier.
NEI — Você têm sofrido muito por causa de sua doença? Em algum momento Você sentiu impaciência, Você se revoltou?
CHICO XAVIER. — Não, ainda não tenho sofrido assim tanto, porque temos hoje a ciência médica muito avançada. Eu tenho, por exemplo, um processo de catarata inoperável e há 46 anos eu faço a medicação em meus olhos com muita calma porque considero, com o Espírito de Emmanuel, que possibilidade de ver já é um privilégio. Eu peço licença para dizer aos senhores que certa feita eu estava lutando para debelar um processo hemorrágico no olho direito e deixei de trabalhar 2 dias, e então disse-nos o nosso Emmanuel, que dirige nossas atividades espirituais: — Porque você não está trabalhando? Eu disse: — O senhor não vê que eu estou com meu olho doente? — E o que o outro está fazendo? Ter dois olhos é luxo.
NARRADOR. — E do aviso do Espírito, Chico Xavier diz ter aprendido uma lição.
CHICO XAVIER. — De modo que estar doente e podendo trabalhar já é quase saúde. Eu posso estar com um processo anginoso, mas estou podendo trabalhar sem dor, isto é muito importante para mim.
NEI — Você disse que o seu guia Emmanuel é uma reencarnação do Padre Manuel da Nóbrega.
CHICO XAVIER. — Desde o princípio, eu tenho esta convicção. Desde 1931, quando ele apareceu eu tive a convicção que ele era o Padre Manuel da Nóbrega, companheiro do Padre Anchieta, fundador da Capital de São Paulo.
NARRADOR. — São milhares de pessoas que chegam de todo o Brasil. Chico Xavier nunca se disse fazedor de milagres, mas acredita que pode ajudar as pessoas, nem que seja apenas com uma palavra de apoio, de esperança, de solidariedade. E confessa que nesses 52 anos chegou a esquecer de viver sua própria vida.
CHICO XAVIER. — À medida que fui penetrando na compreensão da mediunidade, com a presença dos Amigos Espirituais em minha vida, entendi também que a minha vida particular tinha muito pouco interesse diante do interesse do trabalho deles junto à nossa vida comunitária, distribuindo paz, esperança, verdade e amor, Através dos livros, mensagens, que eles têm escrito constantemente, desde 1927.
NEI — O senhor não acha que há um momento em que as pessoas têm direito de ter raiva, de sentir ódio?
CHICO XAVIER. — Estamos encarnados na Terra, Espíritos imortais que somos, para nos humanizarmos, de modo que todo processo de ódio ou de cólera é reminiscência de nossa vida animal. Vida animal que estamos deixando pouco a pouco, através de nosso burilamento. Então, é possível que tenhamos raiva ou que tenhamos ódio, é possível, sem termos direito para isso. Porque o ódio que sentirmos ou a cólera que alimentemos recai sempre sobre nós, no sentido de doença, de abatimento, de aflição e só pode nos causar mal, já que deixamos, há muito tempo, a faixa da animalidade para entrarmos na faixa da razão. Somos criaturas humanas e por isso devíamos sentir a verdadeira fraternidade de uns para com os outros, sem possibilidade de nos odiarmos, porque os irmãos verdadeiros nunca se enraivecem, uns contra os outros.
NEI — Se você pudesse resumir numa frase a sua filosofia de vida, o que você diria?
CHICO XAVIER. — Diria que no mundo, a nosso ver, não apareceu, por enquanto, nenhuma frase resumindo uma filosofia correta de vida como aquela pronunciada por Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. (Jo
NEI — E o conselho definitivo às pessoas, qual você daria?
CHICO XAVIER. — Se pudéssemos aconselhar alguém sobre a solução do problema da felicidade diríamos que o trabalho em nossa vida deve ser constante. Que só devemos repousar como pausa de refazimento das nossas próprias forças, que o espírito de férias, o espírito do repouso, do descanso, devia ser considerado como pausa unicamente para a restauração de nossas energias, porque trabalhar servindo, trabalhar fazendo o bem, é realmente o caminho real da felicidade, que é a felicidade legítima para cada um de nós.
NEI — E o que um homem como Chico Xavier pensa da morte? Ele teria medo de morrer?
CHICO XAVIER. — Morrer em si não dá medo. Geralmente sentimos na posição de quem entende o processo de desencarnação. Mas na maioria das vezes, nós, segundo informações dos Amigos Espirituais, não chegamos a sentir a presença da morte, porque eles nos dizem, que todos os dias nós fazemos o exercício da morte através do sono, e da ressurreição pela manhã quando despertamos e levantamos o nosso corpo.
NEI — Mas, acreditar na reencarnação, numa vida futura, aqui mesmo na Terra, não seria uma maneira de tornar as pessoas passivas? Não seria a pura e simples aceitação de um destino inevitável, um futuro que não se pode mudar? Em quase todas as religiões não é a promessa da recompensa para os bons que fazem as pessoas lutarem por um destino melhor?
CHICO XAVIER. — Não. Não acredito, porque a pessoa que acredita na reencarnação, com sinceridade, ela trata de aproveitar o tempo e de valorizar a bênção recebida. Por isso mesmo a existência é faceada com espírito de muita responsabilidade por todos aqueles que creem na reencarnação como um processo evolutivo ou coma medida de resgate ou de aprimoramento para o nosso Espírito.
NEI — Você acha que depois de morrer você vai reencarnar?
CHICO XAVIER. — Sim, vejo isso como uma necessidade essencial porque quanto mais estudo com os Bons Espíritos os temas naturais da vida, mais compreendo a amplitude da minha ignorância. E só reencarnado, só no relacionamento com os nossos semelhantes, é que posso continuar aprendendo, de modo que eu não espero nenhuma felicidade, chamada paradisíaca, depois da existência humana, senão essa felicidade maravilhosa de poder continuar vivendo aqui mesmo, entre os amigos terrenos, aprendendo com eles, como estou aprendendo até hoje. E espero partir deste mundo, quando houver de partir, aprendendo sempre.
NEI — O senhor lamenta não ter deixado um filho?
CHICO XAVIER. — Há um antigo provérbio que diz que a criatura, na passagem por este mundo, deveria deixar uma árvore, um livro ou um filho. De maneira que, plantei algumas árvores, não tenho corpo para a produção de filhos na vida física, mas em matéria de livros que considero filhos meus, desde que eles todos passaram pelas minhas mãos, pelo meu calor, pelo meu sangue, pelo meu entusiasmo, pela minha alegria de trabalhar como filhos, então, em vez de um filho deixo 150.
NEI — 150 livros! Um recordista de publicação e venda no Brasil. Quanto dinheiro Chico Xavier ganhou com isso?
CHICO XAVIER. — Graças a Deus reconheço que esses livros nunca me pertenceram. Eles pertencem àqueles que os editam ou os escrevem através de minhas mãos. Isto desde 1927. Quanto mais tempo passa, mais me conscientizo desta realidade. De modo que os livros não me trouxeram dinheiro e nem me dão dinheiro, mas me trouxeram aquilo que considero muito acima do dinheiro, que é a amizade de muitos amigos, um verdadeiro tesouro de amor que tenho dentro de minha vida, que fez realmente a minha felicidade, porque eu me sinto feliz com os amigos que Deus me deu.
NEI — Uma última pergunta para esse homem responder: Que castigo mereceria quem fosse capaz de enganar os humildes, de se aproveitar da fé dos desesperados?
CHICO XAVIER. — A palavra castigo, para nós, deve estar circunscrita nos processos de justiça, ou aos problemas chamados penalógicos. Porque quem engana, não apenas aos humildes, o que engana a qualquer pessoa, está enganando a si mesmo. Porque mais hoje, mais amanhã, a pessoa que engana acaba logrando a si própria.