R — Nós estamos muito honrados com a visita de vocês, do Colégio Estadual de Uberaba, e agradecemos as palavras de nosso amigo José Carlos.
Quanto ao Pinga-Fogo, sinceramente, minha surpresa é enorme, porque nunca pensei que esse programa, realizado pelo Canal 4 em S. Paulo, pudesse alcançar a área de opinião que vem alcançando. De modo que a surpresa também é minha.
R — Nós estamos praticamente num ápice da civilização.
Outras civilizações existiram na Terra, mas porque os ápices de civilização não foram orientados pelo equilíbrio espiritual, estas civilizações, como que desapareceram, dando lugar à civilização em cujos cimos culturais estamos hoje.
Acreditamos que para que o homem atinja a perfeição não se pode menosprezar os valores do Espírito. Todos estamos formulando votos aos Poderes Divinos que governam o Mundo e a Humanidade, para que o homem se volte para dentro de si mesmo a fim de que nós todos, dentro dessa interiorização, venhamos a compreender que sem os valores da alma não podemos avançar muito tão só com os valore: físicos que são praticamente transitórios.
R — Estivemos há alguns dias diante de questão semelhante. O problema dos anticoncepcionais está em foco.
Ninguém pode deter a marcha dos anticoncepcionais na Humanidade. Seria sustentar uma ilusão se fôssemos asseverar o contrário.
Acreditamos que os anticoncepcionais merecerão, agora, e em futuro próximo, estudos mais acurados da ciência médica, para que o uso deles não se faça indiscriminado. E que esse uso seja proveitoso na preservação dos valores da saúde, da higiene, do equilíbrio físico e mental e da segurança e paz da Humanidade.
Cremos, também, e cremos com a palavra dos Amigos Espirituais — pois do que estamos falando aqui devem os nossos amigos jovens do Colégio Estadual de Uberaba, estar convencidos de que não falamos por nós. Estamos apenas transmitindo instruções que temos recebido do Espírito de Emmanuel e de outros Benfeitores Espirituais nos últimos tempos.
Cremos com os Amigos Espirituais, repitamos, que os anticoncepcionais estão chegando à esfera humana como socorro da Providência Divina, para que não nos comprometamos com o aborto tocado de irresponsabilidade e, às vezes, até legalizado por princípios de governança pública, como está acontecendo em diversos países.
A criança-embrião é um ser vivo, e um ser vivo indefeso.
O aborto é um delito difícil de ser classificado, porque a vítima está absolutamente incapaz de operar na própria defesa.
Acreditamos que à pratica do aborto consciente, indiscriminado, e até mesmo apoiado por leis, devemos preferir os anticoncepcionais que poderão merecer estudos específicos da ciência e beneficiar a Humanidade dentro de um campo de limitação razoável na família, nos tempos que correm, quando os filhos dão trabalho e exigem muito esforço dos pais.
R — Conhecemos diversos casos de inseminação artificial, principalmente na 1nglaterra, em que diversas jovens, que não se sentiam inclinadas ao casamento e desejaram a maternidade, preferiram esse tipo de maternidade.
A inseminação artificial é um assunto, que, a nosso ver é interessante, pois abriu o caminho também para o tubo de ensaio, um problema de solução talvez iminente.
Talvez que os preconceitos sociais, e os princípios religiosos possam retardar na ciência a fabricação desse engenho pelo qual o Espírito tomará corpo na Terra sem necessidade da comunhão sexual entre o homem e a mulher, mas, sem dispensar o material genésico da mulher e do homem.
R — Pelas palavras do nosso caro Nilson Tarcísio, estamos vendo que a turma do Colégio Estadual de Uberaba é formada mesmo de corações maravilhosos.
Estou longe de merecer esse conceitos tão generosos, mas agradeço de coração e tomo isso como uma Reprimenda Luminosa, para que eu seja um dia aquilo que os outros esperam que eu seja, sem que eu o seja de imediato.
Vamos dizer, a mediunidade é peculiar a toda criatura humana; todas as pessoas são portadoras de valores mediúnicos que podem ser cultivados ao máximo, desde que a criatura se dedique a esse gênero de trabalho espiritual. De modo que, muitas vezes, encontramos uma certa dificuldade no problema mediúnico dentro da Doutrina Espírita.
De modo geral, a pessoa só se diz médium quando se sente vinculada a um processo obsessivo; quando sente arrepios, muita perturbação, muito assédio, muita angústia, então se diz que essa pessoa é médium. Bem, aí já é médium assediado, médium doente. A mediunidade está enferma. Mas a pessoa sã, em plenitude dos seus valores físicos, pode perfeitamente estudar a própria mediunidade e ver qual o caminho que suas faculdades mediúnicas podem tomar.
Uma criatura que desenvolva a sua própria mediunidade, desenvolve-a educando-se, procurando aprimorar a sua capacidade cultural, os seus valores, vamos dizer, os seu valores de experiência humana, os seus contatos no campo da humanidade, o seu dom de servir; essa criatura encontra na mediunidade, um campo vastíssimo de trabalho e de felicidade, porque a felicidade verdadeira vem do trabalho bem aplicado, daquele trabalho que se constitui um serviço pelo bem de todos.
E o médium, dentro da Doutrina Espírita, é uma criatura não considerada fora de série de criaturas humanas. O médium é um ser humano, com as fraquezas e as perfeições potenciais de toda a criatura terrestre.
Então, a Doutrina Espírita é Mãe Generosa porque acolhe a criatura humana e faz dela um médium, mesmo que tenha muitos erros e muitos acertos, mas, depois, do curso do tempo, os acertos vão abafando os erros e a criatura pode terminar a existência com grande merecimento. Porque pelo trabalho na mediunidade, trabalho pelo bem comum, ela vence esse peso, que é o mais importante no mundo. Vencer a nós mesmos do ponto de vista das tendências inferiores que estejamos carregando. Falo isso a meu respeito, porque não creio que ninguém carregue tanta imperfeição como eu…
R — Se o médium se dedicar a receber o pensamento dos Espíritos, começando pela sua boa vontade, pela sua dedicação, ao problema da escrita psicográfica pode perfeitamente psicografar. Mas esse companheiro ou companheira não pode estar pensando em termos de tempo para que o desânimo apareça.
Treinar, educar-se, aprender, reaprender, às vezes tropeçar, cair, mas reacertar, levantar, continuar; servir sempre sem nenhuma ideia de melindre pessoal diante da crítica, que por ventura apareça, essa criatura vai aprimorando a mediunidade, isto é, a psicografia, como você perguntou, e essa psicografia pode produzir no campo do mundo melhores frutos.
R — Creio que imensamente, mas com muita sinceridade.
Toda criatura humana tem reservatórios infinitos de fé, e o jovem principalmente. Por exemplo, se nós que amadurecemos na experiência humana perdermos a fé nos jovens, não contaremos com futuro razoável nem com futuro tão sereno, tão produtivo, tão brilhante como desejamos.
Todos temos fé na juventude e nós cremos que a juventude tem fé nas forças da vida, quando não estejamos pronunciando o nome sagrado de Deus.
Já que estamos num período em que muitos dos jovens desejam que se fale uma linguagem mais moderna, isso é, fora da conceituação das religiões tradicionais, vamos, então dizer, como sinônimo de Deus, a Força da Vida. Todo jovem crê na força da vida, e para nós que cremos em Deus a força da vida é Deus.
Nós temos amigos jovens, que costumam dizer: Nós não cremos em Deus, nós cremos no homem; mas o homem é filho de Deus. E um pai que se vê acreditado no filho, sentir-se-á até muito mais feliz do que se as pessoas acreditarem nele, porque o homem é obra prima de Deus.
Todos os sistemas de fé raciocinada, fora do conceito da fé mística e da fé religiosa, que fazem do homem um ídolo moderno também é fé no futuro, é nós estamos certos de que essa mocidade maravilhosa dos nossos dias, estudiosa, realizadora, está caminhando para Deus pela fé com o mesmo entusiasmo com que nós caminhamos há quarenta, há trinta, vinte anos atrás.
R — Nosso Domingos Paiva, falou muito bem quando disse: mocidade maravilhosa dos tempos de hoje a caminho do futuro, porque eu sou daquelas pessoas que não admitem essa história de mocidade transviada.
Eu acredito que se há jovens transviados, há também muitos de nós outros, os adultos, que estamos também transviados — e, por isso mesmo, vamos considerar esse problema de desequilíbrio numa certa faixa, seja a mocidade, ou seja de madureza nos domínios da vida física. Essa faixa de desequilíbrios sempre existiu.
Compreendo que estamos, diante mesmo de uma juventude maravilhosa em que a grandeza de espírito é força de realização. E nós podemos confiar pedindo a Deus que a abençoe sempre.
Não estamos sentindo nenhum cansaço com a entrevista. A entrevista está admirável e gostaríamos de ir muito mais longe. Nós é que não queremos estar bancando, aqui, uma pessoa de autoridade, pois não temos autoridade nenhuma. Estamos, aqui, nesta conversação informal e fraterna como uma pessoa beneficiada pela generosidade de vocês.
Mas, já que nosso Domingos nos falou em mensagem para finalizar o nosso encontro, eu peço licença para ler determinada mensagem recebida por nós há algum tempo:
Escuta, meu irmão, agora é o dia Em que a Bênção Celeste nos coroa Convidando à tarefa clara e boa De espalhar a alegria. Desce do altar caseiro a que te elevas E acende sobre a noite de quem chora Uma réstia de aurora, Adelgaçando as trevas… Assinala, mais perto, De coração fiel, amigo e atento, O dorido lamento Dos que passam clamando no deserto. É a miséria sem lar vagando além, A ignorância, torva e envilecida, A criança perdida E o doente cansado sem ninguém… Desce do pedestal nobre e sublime Em que a glória da fé te ilustra o nome, Trazendo o pão onde se estenda a fome E a luz de Deus onde corveje o crime. Sobre o abismo das lágrimas debruça O coração tranquilo e consolado E encontrarás Jesus crucificado Em cada peito humano que soluça… Em ti que trazes, rútilo e fecundo, O brasão do Evangelho na alma ardente Recai o privilégio onipresente De revelar o Cristo sobre o mundo! Escuta, meu irmão, agora é o dia Em que a Bênção Celeste nos coroa, Convidando à tarefa clara e boa De espalhar a alegria… |
Esta mensagem, é do nosso amigo espiritual José de Atagiba, que foi juiz no Estado do Espírito Santo. [No livro o nome do autor aparece como José Tatagiba]. Oferecemo-la aos nossos amigos da juventude, aos nossos amigos que estão criando o futuro melhor para eles e para nós todos.
Compreendo que o Cristo é o tronco da nossa felicidade, da nossa segurança da civilização do Ocidente. E acho muito interessante a afirmativa do benfeitor espiritual, quando ele diz:
“Em ti que trazes rútilo e fecundo,
O brasão do Evangelho na alma ardente
Recai o privilégio onipresente,
De revelar o Cristo sobre o mundo.”
A juventude de hoje quer um mundo melhor, e um mundo melhor para ser melhor há de se inspirar no Cristo, porque o Cristo é a Verdade e é o Amor.
Nós acreditamos que a mocidade dos tempos modernos está procurando adaptação da vida humana às leis que regem a verdade e que regem o amor, para que a felicidade seja dividida com todos.
Portanto, oferecemos esta mensagem, porque é uma página profundamente despida de sectarismo e serve a nós todos em qualquer posição religiosa que estejamos, convencidos como estamos, na posição de espíritas evangélicos, de que só com Jesus encontraremos o caminho real para a redenção humana, e para a construção de um mundo melhor.
R — José Carlos, muito obrigado ao Colégio Estadual de Uberaba, especialmente a você.
Não continuo porque não vou desatar a fonte das lágrimas. Tenho uma amiga estimadíssima, que é D. Dora Vilela. Ela me ensinou a não chorar em público, mas o coração chora por dentro, chora de alegria vendo tanta gente boa representada pela turma do Colégio Estadual de Uberaba.
Abraçando a você creio que estou abraçando toda essa mocidade maravilhosa, que é a mocidade da terra uberabense, que nós respeitamos e amamos tanto com todo o coração.
Entrevista realizada na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba (MG), pela equipe de reportagem do Colégio Estadual local, em 17 de setembro de 1971, publicada pelo jornal uberabense. “Lavoura e Comércio”.