Não exijas, inconsequentemente, que os outros te deem isso ou aquilo, como se o amor fosse artigo de obrigação.
Muitos falam de justiça social nas organizações terrestres, centralizando interesse e visão exclusivamente em si próprios, qual se os outros não fossem gente viva, com aspirações e lutas, alegrias e dores iguais às nossas.
Como entender aqueles que nos compartilham a estrada, sem largarmos a carapaça das vantagens pessoais, a fim de penetrar-lhes o coração?
Efetivamente, não possuímos fortuna capaz de suprimir-lhes todos os problemas de ordem material e nem as leis do Universo conferem a alguém o poder de atravessar por nós o dédalo das provas de que somos carecedores; entretanto, podemos empregar verbo e atitude, olhos e ouvidos, pés e mãos, de maneira constante, na obra do entendimento.
Inicia-te no apostolado da confraternização, meditando nas dificuldades aparentemente insignificantes de cada um, se nutres o desejo de auxiliar.
Não reclames contra o verdureiro, que te não reservou o melhor quinhão, atarantado, qual se encontra, no serviço, desde os primeiros minutos do amanhecer;
endereça um pensamento de simpatia para a lavadeira, cujos olhos cansados não te viram a nódoa na roupa;
considera o funcionário que te serve, apressado ou inseguro, por alguém de ideia presa a tribulações no recinto doméstico;
aceita o amigo que te não pode atender numa solicitação como sendo criatura algemada a compromissos que desconheces;
escuta os companheiros de ânimo triste, como quem se sabe também suscetível de adoecer e desanimar-se;
interpreta o colega irritado por enfermo a rogar-te os medicamentos da tolerância;
cala o apontamento desairoso, em torno daqueles que ainda não se especializaram em conversar com o primor da gramática;
não te ofendas com o gesto infeliz do obsidiado, que transita na rua, sob a feição de pessoa equilibrada e sadia…
Todos sonhamos com o império da fraternidade, todos ansiamos por ver funcionando, vitoriosa, a solidariedade entre todos os seres, na exaltação dos mais nobres princípios da Humanidade… Quase todos, porém, aguardamos palácios e milhões, títulos e honrarias, para contribuir, de algum mo do, na grande realização, plenamente esquecidos de que um rio se compõe de fontes pequenas e que nenhum de nós, no que se refere a fazer o melhor, em louvor do bem, deve esperar o amanhã para começar.
(Psicografia de Francisco C. Xavier)
TEMAS ESTUDADOS NESTE E NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Amparo desinteressado — Entendimento — Importância do concurso individual — Justiça e nós —Poder do exemplo — Rumo à fraternidade comum