Exaltemos a indulgência não apenas qual lâmpada que deve brilhar nos vizinhos, mas, acima de tudo, por luz viva que nos cabe trazer no coração, de maneira a clarear o próprio caminho.
Pensemos nisso, observando as dificuldades do próximo, como se as dificuldades do próximo, em verdade, nos pertencessem.
Viste o companheiro embriagado, na via pública, e, instado a prestar-lhe breve momento de apoio, desapareceste na esquina, desistindo conscientemente de auxiliá-lo. Reflete, porém, nos suplícios da esposa digna que o suporta, incessantemente, dentro de casa.
Percebeste as manifestações desagradáveis da irmã irrefletida e lhe atiraste em rosto reprovações e críticas, através de advertências amargas. Recorda, no entanto, a luta do homem correto que a sustenta no lar, por mãe dos próprios filhos.
Registraste a presença do irmão obsidiado e fugiste à sorrelfa, temendo a obrigação de socorrê-lo, no espaço de algumas horas. Medita, contudo, nos sacrifícios do coração materno que o carrega sem pausa.
Ouviste as lamentações do enfermo, a censurar-lhe gemidos e descontroles. Imagina, entretanto, como te comportarias se a doença que o verga te invadisse a esfera da própria carne.
Assinalaste as inibições do amigo que conversa de maneira infantilizada e abandonaste, intempestivamente, a palestra, negando-lhe mais alguns minutos de atenção cordial. Pensa, todavia, quão longo e doloroso te seria o sofrimento, se guardasses no cérebro semelhantes entraves.
Ninguém pode viver sem a indulgência dos outros, mas, para exercer com sinceridade a indulgência para com os outros, é necessário saibamos colocar-nos no lugar deles.