Muito se tem fantasiado sobre esses dezoito anos de silêncio dos Evangelhos.
Não é provável que Jesus tenha abandonado a Palestina e visitado outras terras – Egito, Índia, Pérsia, Tibete – para aprender ou para ensinar. Os nazarenos nada sabem dessa suposta ausência do jovem carpinteiro; viam-no todos os dias e estranham a sua sabedoria superior; pois, se nem frequentara escola. . .
Só aos 30 anos começa Jesus a revelar-se como um profeta e iniciado.
Quem o iniciou nos mistérios do Reino dos Céus? Quem foi o seu guru?
O Nazareno é um verdadeiro auto-iniciado. Pelo menos, nada sabemos nada sabemos duma alo-iniciação, como é de praxe no Oriente.
Auto-iniciado é cosmo-iniciado é cosmo-iniciado, Cristo-iniciado, Teo-iniciado.
É provável que, nesses 18 anos de silêncio e solidão nas montanhas da Galileia o jovem carpinteiro tenha realizado a sua auto-iniciação. A profissão do seu ego humano era a de carpinteiro, mas a vocação do seu Eu divino era outra. Certamente, o Verbo não se fizera carne para ser carpinteiro, mas para realizar alguma missão cósmica aqui no planeta terra.
Que tarefa era essa?
Era a tarefa magna de cristificar plenamente uma creatura humana, de elevar à mais alta perfeição um ser humano, Jesus de Nazaré. Aliás, é ele mesmo que afirma aos discípulos de Emaús que viera à terra para entrar em sua glória. E a epístola aos hebreus descreve a evolução ascensional do Jesus humano rumo ao Cristo divino.
Muitos dos nossos teólogos dogmáticos não simpatizam com essa ideia da evolução de Jesus, tanto mais que confundem a pessoa humana do Nazareno com a entidade divina do Cristo. E o Cristo, dizem eles, não podia evolver, porque era Deus, e Deus é imutável.
Até neste ponto estão as nossas teologias em erro. Segundo os livros sacros, houve evolução tanto na pessoa humana de Jesus, como também na entidade divina do Cristo.
Mas, se o Cristo é Deus?
O Cristo é Deus, mas não é a Divindade. Ele mesmo insiste nesta diferença entre o Cristo-Deus e o Pai-Divindade: "Eu e o Pai somos um, mas o Pai é maior do que eu. " A Divindade é maior que Deus.
Paulo de Tarso afirma que o Cristo é "o primogênito de todas as creaturas";
logo, é creatura, e toda a creatura é evolvível.
Também, nós os homens somos "deuses".
A encarnação do Cristo cósmico na pessoa humana de Jesus de Nazaré não visava apenas a sublimação máxima de uma creatura humana, mas também evolução do próprio Cristo. Mais uma vez teve Paulo de Tarso um momento de suprema inspiração, quando escrevia aos cristãos de Filipes: "Ele (o Cristo), que estava na glória de Deus, não julgou dever agarrar-se a essa divina igualdade; mas esvaziou-se dos esplendores da Divindade e se revestiu de forma humana, aparecendo, por fora, como homem, servo, vítima, crucificado.
E por isto, Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, de maneira que em nome de Jesus se dobram todos os joelhos dos celestes, dos terrestres e dos infra-terrestres, e todos confessam que o Cristo é o senhor".
Que é isto senão Cristo-evolução?
A voluntária infra-cristificação aparente produziu uma super-cristificação verdadeira.
Esta voluntária antidromia rumo às profundezas produziu uma subida às alturas, o Cristo pré-encarnado se tornou um super-Cristo pós-encarnado.
Paulo, que escreveu as suas epístolas em grego, gosta de duas palavras sonoras: pléroma e kénoma, isto é, plenitude e vacuidade. O Cristo desceu do pléroma cósmico para dentro do kénoma telúrico; e daqui regressou a uma plenitude maior do que antes, a uma super-plenitude.
É este o grandioso paradoxo do mundo superior; quando o homem sacrifica voluntariamente a sua liberdade e se escraviza por amor, então eleva ele ao supremo zênite a sua liberdade. O homem é plenamente livre só depois de se tornar voluntariamente escravo – por amor.
Se o Cristo fosse a Divindade, não teria sido possivel essa evolução. Mas, como o Cristo é Deus, o primogênito de todas as creaturas, nada há de paradoxal nesta evolução.
Os nossos teólogos têm de superar as suas velhas interpretações analíticas e abrir-se à grande visão intuitiva do Evangelho e dos livros inspirados. "E Jesus foi crescendo em sabedoria e graça perante Deus e os homens. "