Nosso Mestre

CAPÍTULO 139

Lágrimas humanas e prodígio divino



Estava o corpo de Lázaro no túmulo, em franca putrefação. Correm pelas faces de Jesus lágrimas de dor.
Ecoa pelo espaço uma ordem divina: Lázaro, vem para fora! - e logo a alma do defunto volta das regiões da eternidade e restitui ao cadáver inerte vida e saúde. Tão grande é a caridade de Jesus e tão imenso o seu poder.
Ao chegar, encontrou Jesus a Lázaro já com quatro dias de sepultura. Betânia ficava perto de Jerusalém, distante uns quinze estádios. Muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria para as consolar da morte de seu irmão. Assim que Marta soube da chegada de Jesus, saiu-lhe ao encontro, enquanto Maria se conservava em casa.
"Senhor - disse Marta a Jesus - se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão. Mas também agora sei que Deus te concederá tudo que lhe pedires".
Respondeu-lhe Jesus: "Teu irmão ressurgirá".
"Bem sei - tornou Marta - que ressurgirá na ressurreição do último dia".
Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim viverá, ainda que tenha morrido; e todo aquele que em vida crê em mim não morrerá eternamente.
Crês isto?"
"Sim, Senhor - respondeu-lhe ela - eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo, que devia vir ao mundo". Dito isto, retirou-se e foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: "Está aí o Mestre e chama-te".
Ouvindo isto, levantou-se Maria com presteza e foi ter com ele; pois Jesus ainda não entrara na povoação, mas achava-se no ponto em que Marta lhe saíra ao encontro. Quando os judeus que com ela estavam em casa a consolá-la viram que Maria se levantava pressurosa e saía, cuidaram que fosse ao sepulcro chorar, e seguiram-na. Assim que Maria chegou onde estava Jesus e o viu, prostrou-se-lhe aos pés, dizendo: "Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão".
Vendo-a Jesus em pranto, e em pranto também os judeus que a acompanhavam, sentiu-se profundamente comovido e abalado, e perguntou: "Onde o pusestes?"
"Vem, Senhor, e vê" - disseram-lhe.
E Jesus chorou.
Disseram então os judeus: "Vede como o amava". Alguns, porém, observaram:
"Não podia ele, que abriu os olhos ao cego de nascença, impedir que este aqui morresse?"
Tornou Jesus a comover-se profundamente, e foi ao sepulcro. Era uma gruta com uma pedra sobreposta.
"Tirai a pedra" - ordenou Jesus.
"Senhor - disse-lhe Maria, irmã do defunto - já cheira mal; está com quatro dias..."
Tornou-lhe Jesus: "Não te disse eu que verás a glória de Deus, se creres?"
Tiraram, pois, a pedra. Jesus levantou os olhos ao céu e disse: "Pai, graças te dou, porque me atendeste; bem sabia eu que sempre me atendias; mas por causa do povo em derredor é que o disse, para que creiam que tu me enviaste".
Dito isto, bradou: "Lázaro, vem para fora!"
Saiu o que estivera morto, trazendo os pés e as mãos ligados com ataduras, e o rosto envolto num sudário. Ordenou-lhes Jesus: "Desenleai-o e deixai-o andar" (Jo. 11, 17-44).