Triunfo da Vida Sobre a Morte, O

CAPÍTULO 34

# NA MANHÃ DO TERCEIRO DIA



Durante o sábado todo até à manhã do domingo esteve o túmulo de Jesus, devidamente lacrado, guardado pelos soldados romanos.

Mas, antes de nascer o sol do domingo, foram três discípulos de Jesus, Madalena à frente, visitar o túmulo; levavam quantidade de especiarias para embalsamar devidamente o corpo do Mestre, porque, na véspera do sábado, não houvera tempo para um embalsamento às direitas. Sabiam as três que o túmulo estava fechado com uma laje pesada, mas nada sabiam da guarda romana nem da lacração do jazigo. Pelo caminho se preocupavam as três com a remoção da pesada laje, que elas não eram capazes de remover.

O fato de quererem embalsamar o corpo de Jesus mostra que nenhuma delas acreditava na possibilidade de uma ressurreição real e objetiva, tomando as palavras do Mestre em sentido figurado. Também, era por demais inacreditável que o Nazareno saísse vivo do túmulo.

Mas, quando chegaram ao lugar onde se achava o túmulo, verificaram com espanto que estava aberto. E uns vultos luminosos estavam em pé junto ao túmulo. Duas das discípulas fugiram espavoridas, regressando apressadamente para Jerusalém. Ficou somente Maria Madalena, indiferente aos dois vultos estranhos. Sentou-se à beira do túmulo e chorava. Viu a mortalha, cuidadosamente dobrada, como também, em separado, o sudário, também dobrado. Não podia pensar num roubo, porque nenhum ladrão se teria dado ao trabalho de dobrar cuidadosamente a mortalha e o sudário; se quisessem roubar o corpo, era bem mais fácil arrebatá-lo envolto na mortalha.

Madalena estava perplexa.

Nisto ouviu passos por detrás; mas, de tão profundamente abandonada à sua dor, nem olhou para trás, pensando que fosse o jardineiro do jardim em que estava o túmulo. O que estava por detrás perguntou-lhe: "Por que choras, senhora?" E, mesmo assim, Madalena não encarou o alguém que se aproximava; sempre com os olhos fitos no túmulo vazio, respondeu, como que sonhando: "É que levaram o meu Mestre, e eu não sei onde o deixaram; se tu o levaste, dize-me onde o puseste, que vou buscá-lo. " Nisto o desconhecido alguém disse: "Maria" – e subitamente ela reconheceu a voz dele – era o Mestre. . . De um salto se levantou e prostrou-se aos pés do recém-chegado, exclamando: "Raboni", que em hebraico quer dizer "querido Mestre". E segurava-lhe firmemente os pés. Estava com medo de perder outra vez o seu Mestre, se não o segurasse devidamente. "Não me segures", disse Jesus, e fez à ardente discípula que não era possivel, na terra, uma união permanente, porque ele e ela viviam em duas dimensões de existência diferentes. E lhe deu ordem de levar aos discípulos notícia da sua ressurreição.

Mais que depressa, Madalena voltou à cidade, e comunicou aos discípulos que Jesus estava vivo e que ela o vira, tocara e recebera ordens de os certificar disto. Os discípulos, porém, menearam a cabeça, incrédulos, dizendo: "Ela está delirando" e não deram crédito. Ninguém achava possivel que um morto, com o tórax varado por uma lança, pudesse ter revivido. Em todo caso, os dois discípulos, Pedro e João, resolveram ir ao túmulo, para ver o que havia.

Chegaram, viram o túmulo vazio, viram as mortalhas e o sudário cuidadosamente colocados à parte – e não creram na ressurreição.

Voltaram à cidade e se reuniram com os outros discípulos na sala do cenáculo, trancando devidamente as portas, com medo dos Judeus.