Instrumentos do Tempo

Capítulo XXXI

Aparências



Não te percas na contemplação excessiva do plano exterior, aniquilando a gloriosa oportunidade de tua própria ascensão à luz divina.

Aquele que passa na estrada, exibindo pesada bagagem de ouro, provavelmente transporta um coração atormentado e infeliz.

Muitas vezes, quem estende os braços, implorando a esmola fácil, traz consigo a revolta e a dureza íntima, sob o farrapo humilhante.

Não raro, o jovem que provoca a inveja de muitos se dirige para destino doloroso, fazendo-se credor de nossa simpatia em preces de intercessão.

Frequentemente, aquele que te parece feliz, no círculo da prosperidade transitória, é um irmão desventurado, entre aflições morais que lhe constringem o espírito.

Não julgues o rico por impiedoso, nem o pobre por humilde.

Não suponhas a felicidade na beleza efêmera do corpo, nem admitas a virtude incorruptível onde se encontre a felicidade passageira.

Às vezes, a santificação permanece com aquele que se afigura pecador e a maldade se resguarda no imo de quem se oculta na máscara da pobreza e da angústia, no jogo das aparências.

Lembra-te de que a Força Divina sabe ver nas profundezas e, com o arado do tempo, tudo corrige, reajusta e eleva, sem necessidade da nossa apreciação individual.

Aproveitemos o campo da boa luta para a sementeira do bem, porque não responderemos pelos outros e sim por nós mesmos, quando a ordem superior da vida nos conduzir a exame necessário.

Não te prendas à sombra e, consciente de que receberemos, segundo as nossas próprias obras, (Mt 16:27) procuremos, cada dia, a glória de servir, a fim de encontrarmos na imortalidade, fora das ilusões da carne, a felicidade verdadeira e maior.