Redimiremos a nós mesmos, quando compreendermos, conscientemente, ao preço do próprio raciocínio que, todos os sofrimentos decorrem das leis de amor que governam a vida. Para isso, é indispensável entendamos que todos vivemos subordinados ao princípio inelutável da reencarnação e que nos reencarnaremos, na Terra ou em outros mundos, tantas vezes quantas se fizerem necessárias, para que se nos edifique o aperfeiçoamento espiritual, seja diante dos imperativos da evolução que nos traçam inevitáveis labores educativos ou à frente dos encargos expiatórios que nos apontam graves tarefas de recapitulação e corrigenda, para o expurgo da consciência culpada.
Se temos o coração aberto em feridas profundas, isso não basta; é preciso transubstanciar as próprias dores em esperanças e ensinamentos.
Às vezes, trazemos o semblante lavado de lágrimas, no entanto o desespero e a inconformação desmancham-se igualmente em pranto amargo; para expurgar o mundo íntimo é mister valermo-nos da provação como recurso de trabalho, para converter a tribulação em alegria e a dificuldade em lição.
Bendigamos as mãos que nos ferem. Imperioso, porém, nos dediquemos a fazer algo a fim de que se renovem para o entendimento e para a prática do bem, sob a inspiração dos bons exemplos que lhes pudermos ofertar.
Dizemos a verdade e, não raro, riem de nós muitas vezes, só porque isso aconteça, julgamo-nos dispensados de trabalhar pela expansão de novas luzes, quando a verdade reclama continuísmo de abnegação para que triunfe a benefício de todos.
Recolher pedras de ingratidão por pétalas de carinho é heroísmo de muitos. Multidões respiram nesse câmbio estranho de padecimentos morais, preferindo acomodar-se à hipnose da queixa. A ingratidão é sempre resultado da ignorância e para que a ingratidão alheia produza bênçãos redentoras, em nós é necessário prosseguir plantando entendimento e fraternidade na terra seca da incompreensão, de que muitos outros já desertaram.
Quase sempre exigimos o máximo dos outros na construção da nossa felicidade, sem lhes darmos de nós o mínimo na preservação da própria segurança. Entretanto, em apoio de nosso burilamento, urge sustentar atividades e encargos de sacrifício.
Caluniam-nos frequentemente, no entanto, só pelo fato de sermos apontados pelo dedo da injúria, isso não adianta ao aperfeiçoamento espiritual. Impreterível usar compaixão e bondade, à frente daqueles que nos perseguem.
Em muitas circunstâncias, o lar é o cárcere dos nossos sonhos, contudo, é útil recordar que vastas fileiras de criaturas se encontram na mesma situação, agravando padecimentos e lutas pelo abandono das responsabilidades que lhes competem. A regeneração pela qual ansiamos espera por nossa fidelidade aos compromissos assumidos, com a nossa disposição de arquivar planos de ventura para quando a Divina Sabedoria nos proclame a libertação.
Vergamo-nos sob o fardo de inquietações opressivas, mas, para que essas inquietações nos sirvam ao reajuste da alma, cabe-nos a obrigação de transformá-las em testemunhos de fé e serviço ao próximo.
Convém notar que o reconhecimento dos próprios erros, perpetrados nesse ou naquele setor da existência, é o primeiro passo da reabilitação, mas esse começo é empreendimento nulo, se não resolvemos corrigir-nos com humildade e paciência, na execução dos deveres que a vida nos recomenda.
Sim, vezes inúmeras, costumamos refletir nas grandes façanhas dos Espíritos valorosos que transformaram a Terra… Acolheram-se, à filosofia e criaram novas formas de pensamento, abraçaram a ciência e exalçaram o progresso; elevaram-se na cultura e engrandeceram a arte; agigantaram-se no trabalho e aperfeiçoaram a vida; entretanto, reencarnaram-se entre os homens, lavrando o solo, mecanizando atividades, burilando palavras, renovando costumes, aprimorando leis, desbravando caminhos… Todos eles, cada qual a seu modo, entregaram-nos as chaves da evolução, melhorando a vida por fora. No íntimo, porém, seja nas horas tranquilas da existência ou nas crises de aflição que nos supliciem a alma, é forçoso lembrar que a redenção verdadeira nasce dentro de nós.
(Este capítulo foi psicografado por Francisco Cândido Xavier)