Linha Duzentos

Capítulo II

Imperativo da vida



De imediato, ninguém renova pessoa alguma.

O Criador imprimiu tamanha originalidade em cada um de nós que toda criatura é alguém com traços inconfundíveis.

À vista disso, em nossos grupos familiares e sociais, somos situados pela vida, uns à frente dos outros, para o trabalho de amparo recíproco, não apenas em se tratando do resgate dos débitos que remanescem de existências passadas, mas também a fim de que nos eduquemos mutuamente através de nossas relações comuns.

Nisso reside o imperativo de nos aceitarmos tais quais somos. Indispensável amparar-nos, escorar-nos e entender-nos.

Aprendamos a reconhecer que toda criatura é portadora da estrutura emocional que lhe é própria.

Se já experimentas a segurança psicológica, suscetível de suportar os lances difíceis da caminhada humana, não te esqueças de que os outros, notadamente aqueles que te cercam, nem sempre já conseguiram a resistência espiritual que te caracteriza. Nas horas de provação, não exijas deles atitudes semelhantes às tuas.

Esse ainda não tolera agravos pessoais, sem que se lhe desajuste a sensibilidade; outro, por enquanto, não aguenta prejuízos sem molestar-se; aquele não sabe separar-se, mesmo por alguns dias, das pessoas amadas sem abater-se; e aquele outro ainda ignora como atravessar qualquer problema afetivo, sem lesar o próprio coração.

Ante os obstáculos daqueles que mais amas ou renteando as tribulações de quantos desconheces, não pronuncies palavras de condenação. Oferece-lhes reconforto e coragem.

Exigências poderiam transformar-se neles na chaga invisível do desânimo, precursora de enfermidade ou desequilíbrio.

Efetivamente, de improviso, não conseguimos renovar a ninguém; no entanto, podemos reanimar quantos caiam ou sofram, em nossos caminhos de experiência, com alguma fatia de esperança.