Lira Imortal

Capítulo II

Uma palavra à Igreja



A Igreja antigamente era uma luz dourada

Que enchia os corações de paz e de esplendor,

Sublime manancial, fonte viva ao amor,

Jorrando sob o sol de mística alvorada.


A palavra da fé caia como um luar

De esperança divina, esplendorosa e doce,

Sobre as dores cruéis, mas tudo transformou-se

Quando Pantagruel apareceu no altar.


Então, desde esse dia, as dúlcidas lições

Do exemplo de Jesus o meigo Nazareno,

Sumiram-se no horror do lamaçal terreno,

No multissecular mercado de orações.


De Deus fez-se um cifrão imenso, extraordinário,

Inventou-se o ritual de um Cristo estranho e novo

E fez-se a exploração sacrílega do povo

Sobre a tragédia santa, excelsa do Calvário.


Ó Igreja, esquece ao longe as indústrias da cruz,

Só o Amor é farol no humano sorvedouro,

Deixa ao mundo infeliz as caixas-fortes de ouro

E volta, enquanto é tempo aos braços de Jesus!…




Esta mensagem, que no livro impresso não incorporam os últimos dois versos (4 e 5), foi publicada originalmente em 1935 pela LAKE e é a 7ª da 2ª Parte do livro “”