Luz Bendita

Capítulo XVII

… Sua obra inegavelmente é destinada a atravessar os séculos …



Foi no ano que os meus filhos foram para a Escola Preparatória de Cadetes, em São Paulo. Para mim, que nunca havia me separado deles foi uma morte lenta. Tudo fiz para ocultar deles o meu sofrimento. Contudo, quando os vi partir, adoeci seriamente. O organismo recusava-se a aceitar a alimentação e tudo era devolvido pouco tempo depois da ingestão. Fiquei assim um ano, até que uma colega de repartição convidou-me a ir ver Chico Xavier.

Não o conhecia. Alguém já me havia emprestado um livro psicografado pelo querido médium. A leitura fez-me muito bem. Tratava-se de André Luiz, e muito chorei ao ler, identificando-me, de pronto, com o Espírito.

Conheci Chico Xavier no dia 8 de novembro de 1957, em Pedro Leopoldo, Minas, levada por uma colega, a quem devo essa bênção. Em Pedro Leopoldo, sem perda de tempo, às 19 horas fomos para o Centro Espírita Luiz Gonzaga. Poucas pessoas lá estavam. Chico, de pé, na cabeceira de uma longa mesa, atendia uma senhora. Nem sei explicar o que se passou quando o avistei. Parei um pouco hesitante e muito emocionada. Como percebeu o que se passava em meu coração, olhou em direção à porta, parou a conversa e disse-me: “Suzana, eu já a estava esperando”. Minha emoção atingiu o auge, e chorei copiosamente no abraço ao Chico. Na verdade já não sabia o que desejava conversar com ele, nem mesmo como começar qualquer assunto. Ele, tomando a palavra, começou a falar sobre a minha vida, referindo-se aos meus sofrimentos e até às calúnias por mim sofridas, com pormenores que jamais alguém conhecera, desde que tudo ficara no silêncio do meu coração. Foi uma conversa altamente confortadora para mim. No final me disse que o Espírito de Emmanuel ali presente, pedia que lesse para mim determinado trecho de uma 2tm 4:14 cap. 4:14, que diz: “Alexandre, o latoeiro, me fez grande mal, mas Deus o recompensará segundo as suas obras”. Terminou dizendo: “Não é que se deseje o mal de ninguém, minha filha, mas isto é da Lei.”

Nessa viagem fiquei 3 dias em Pedro Leopoldo e, pelo meu gosto, não teria saído mais de perto do Chico. Creio que será desnecessário dizer que voltei completamente curada e inteiramente renovada, espiritualmente falando.

Este livro não seria suficiente se fôssemos relatar tudo o que Deus nos tem permitido observar e aprender ao lado do Chico. Relatarei um caso que ficou gravado até hoje em minha tela mental. Certa vez lanchávamos em companhia de Chico,, em Uberaba, quando ele passou às minhas mãos uma xícara de café. Em pleno dia, houve então impressionante fenômeno de efeitos físicos; vi, altamente surpreendida, que os seus dedos brilhavam e como se fossem de cera a derreter-se em contato com o calor, começou a jorrar perfume. O café ficou perfumado e o chão respingado de agradável perfume que invadiu a sala toda. Ele ocultou a mão, meio sem jeito, e eu perguntei: Chico, o que você sente quando isto acontece?! Respondeu-me: “Sinto vergonha, minha filha!” Este fato, no meu entender, fala por si só, da humildade e da estatura espiritual desse amado mensageiro de Jesus. Tenho pensado muitas vezes que, se Chico professasse qualquer outra crença religiosa, certamente seria isolado e considerado santo. Contudo, a beleza de tudo isto é que, como Espírita-Cristão, ele é apenas o nosso irmão, o nosso amigo, benfeitor e conselheiro, que está sempre ao lado dos que sofrem. Enfim, ele é apenas CHICO XAVIER.

Tem muitas vezes nos transmitido recados de Amigos Espirituais, de familiares, pessoas que já estão na Espiritualidade há muitos anos, e com quem lidamos na adolescência. Outros até nem sabíamos que já haviam desencarnado. Exemplo: Recados de papai, Gerson Ferreira Mousinho, que através do Chico, sabemos estar reencarnado, do Padre Severino Ramalho, de Nova Cruz, Est. do Rio Grande do Norte; Dr. Orlando Azevedo, distinto médico, também do Estado do Rio Grande do Norte; Dr. Lysanias Marcelino da Silva, igualmente distinto médico com quem trabalhei, logo depois que terminou a última grande guerra. Dr. Lysanias médico,psiquiatra,examinava os imigrantes vindos para o Brasil, integrando ele a equipe médica destinada a esse fim, pelo Serviço de Saúde dos Portos, do Ministério da Saúde.

Secretariei este serviço do qual Dr. Lysanias fazia parte e estabeleceu-se entre a equipe médica e demais colaboradores uma amizade sadia e duradoura. Desencarnou Dr. Lysanias há uns poucos anos e tenho tido o contentamento de receber, através da mediunidade indiscutível de Chico Xavier, recados e orientações verbais do Dr. Lysanias. Chico nem sequer sabia que eu com ele trabalhara. Outro também que está no Além há poucos anos, foi meu médico operador; igualmente tenho tido suas notícias, é o Dr. Hélbio Regos Lins.

Outra coisa: não foram poucas as vezes em que viajando para Uberaba, ao encontro do Chico, tive a surpresa, em lá chegando, de saber que ele estava a par de tudo quanto havíamos conversado em viagem.

Para mim Chico é um dos grandes Benfeitores da Humanidade. Atesta a renovação moral, consequentemente a espiritual de todos quantos têm a felicidade de privar da amizade, ou do simples conhecimento com o Chico, e muito mais do que isto, da grande e monumental obra que o Plano Espiritual Superior enviou ao mundo por intermédio de sua mediunidade. É incalculável o número de Mães que perderam filhos ou entes queridos, por ele confortadas, a par dos suicídios evitados pela leitura das Obras Espíritas, dos trabalhos assistenciais criados e mantidos por Espíritas convictos, que se tornaram Espíritas depois do contato com o Chico. Poderíamos examinar a situação do ser humano, no campo religioso, pelo menos em nosso Brasil, antes e depois do Chico Xavier. Entendo que só um Apóstolo, afinado cem por cento com o pensamento de Jesus, poderia nos dar, em matéria de conhecimento espiritual e exemplos sublimes, o que Chico nos tem dado. Talvez, nós Espíritas, não tenhamos ainda meditado o suficiente, no que representa a presença de Chico Xavier entre nós. Sua obra inegavelmente é destinada a atravessar os séculos.

Antes de conhecê-lo não professava a Doutrina Espírita e hoje, tudo o que sou, e que faço, devo aos exemplos e ao estímulo que recebi dele. Chico é para mim aquela cidade erguida no cimo do Monte, de que nos falou Jesus. Não se pode ocultar uma cidade assim. Por qualquer que seja o ângulo que se aprecie a vida de Chico Xavier, há uma virtude exposta, como um farol a nos guiar rumo à Casa Paterna, ao Lar Espiritual. Em tolerância, trabalho, compreensão, bondade inata, disciplina, amor ao bem, caridade e humildade ninguém excede o Chico! Que não tenhamos a infelicidade de receber tantas bênçãos dos céus por suas mãos e não valorizarmos!

Eu como devedora insolvente do Chico, mesmo que rastejasse pelo resto de minha vida, não pagaria o que fiquei a lhe dever nesta existência. O Espírito de Emmanuel disse, certa vez, que não houve um século em que não reencarnasse um Apóstolo de Jesus. Para mim, Chico é o Apóstolo deste século.

Por isso, entendo que os 50 anos de mediunidade cristã de Chico Xavier, facultou à Humanidade um avanço no campo do conhecimento espiritual de no mínimo dois mil anos. Ninguém ignora que nestes 50 anos de trabalho com Jesus e os Bons Espíritos, a luz dos seus olhos foi-se apagando lentamente, para que os nossos olhos tivessem luz. Espero que todos os que privaram do contato pessoal ou através do livro, com o Chico Xavier, saibam receber a mensagem do Alto, de alma agradecidamente voltada para Deus. Há no Evangelho de Jesus uma sentença que diz: “Aquele que receber um Profeta, na condição de Profeta, receberá o galardão de Profeta”. Mt 10:41. Que cada um traduza para si mesmo essa afirmativa do Mestre, porque Chico Xavier, sem dúvida alguma, marcou época nos Ariais da Espiritualidade Superior e entre nós também!

Além de tudo que já relatei, poderia ainda dizer que, em 1968, recebi uma carta de Chico Xavier, falando-me da necessidade de submeter-se a uma intervenção cirúrgica bastante delicada, e com autorização dos seus Mentores Espirituais pedia-me para acompanhá-lo durante os dias que estivesse sob os cuidados médicos. Embora ocultando minhas preocupações com a saúde dele, considerei uma bênção de Deus em meu caminho, poder, como filha pelo coração, pois é assim que me considero em relação a Chico, estar a seu lado naquelas horas difíceis. Uma cirurgia, por mais simples, é sempre uma interrogação em nossas vidas, e de certo modo é tranquilizante ter ao nosso lado alguém em quem possamos confiar. Chico me deu este crédito de confiança, pois os familiares, que ele gostaria estivessem ao seu lado, duas pessoas estavam com problemas de saúde, e ele preferiu não preocupar os demais. Assim, no dia 29 de agosto de 1968, entramos na Casa de Saúde Sta. Helena, em São Paulo. Acredito que conheciam o assunto somente o Dr. Elias Barbosa, distinto médico de Uberaba, Dr. Oswaldo de Castro que ia colaborar em sua cirurgia, e o casal Francisco Galves. Todos amigos íntimos de Chico. Nunca esqueço a hora em que Chico trocou suas vestes pelas do Hospital, e entregou-me sua roupa e a pasta que conduzia. Não era hora de chorar, e foi imenso o esforço que fiz para conter as lágrimas… chorar para dentro do coração, pois de forma inarticulada havia um mundo de recomendações nesse simples gesto de entregar-me os pertences. Dormiu pouco à noite, e no curto espaço do sono, desdobrado, visitou uma Enfermaria no Plano Espiritual, que há no sub-solo do Hospital, destinada a recolher recém-desencarnados necessitados de ali permanecer por mais algum tempo. Desceu de elevador, disse-me ele, e conversou com alguns espíritos ali abrigados.

No dia seguinte, logo às 7 horas recebeu o pré-anestésico. Parecia repousar, mas quando vieram buscá-lo, para surpresa nossa, ergueu-se e sem auxílio de ninguém passou à maca, risonho e bem-disposto. Despedimo-nos dele e o acompanhei até o elevador, e ele seguiu acenando-nos. Estranhei aquilo, e, mais tarde, vim a saber que já não era ele, Chico, e sim o Espírito de Meimei que o tomou naquela hora, e o acompanhou para dar-lhe o calor que seu organismo necessitava durante a cirurgia. Soube que entrara na sala de operação conversando lucidamente com os médicos; mas não era ele, e sim Meimei. Este fato é extraordinariamente belo. Tanto assim que antes de deixar o Hospital, fez questão de conhecer a sala de cirurgia da qual não tinha a menor noção, e depois visitar as criaturas simples e boas que trabalhavam na cozinha do Hospital Santa Helena, distribuindo rosas para todos. No recinto, era quase a hora do jantar, misturou-se o perfume do Plano Espiritual com o cheiro da comida em preparação.

Durante a sua estada no Hospital foram proibidas as visitas para que Chico Xavier tivesse o repouso indispensável à sua cura, e nós que o acompanhávamos, tivemos oportunidades sublimes de observar muita coisa. Ele despertou da anestesia por volta das 10 horas da noite. Calmo, nada falava, mas de vez em quando via que estendia a mão a alguém. Como estivesse à sua cabeceira, tomava-lhe a mão e perguntava o que queria, ele falava então o nome do Espírito que o visitava naquela hora. E não foram poucos os visitantes… Havia no Hospital, frente a sua cama, um Crucifixo, que Chico nos disse ter reparado e achado interesse na iluminação que o rodeava. Perguntara ao Espírito de Emmanuel o que significava aquela luz, ao que Emmanuel lhe explicou serem as preces dos doentes ali internados, as rogativas agoniadas e sinceras que embelezavam o crucifixo com aquela auréola.

Outra coisa curiosa, à noite, quando Galves e Nena, Dr. Oswaldo de Castro e Terezinha chegavam para visitá-lo, naquelas noites frias, a garoa cobria S. Paulo, e eles chegavam envolvidos em grossos agasalhos, logo eram forçados a retirar os sobretudos de lã, porque o quarto mantinha-se numa temperatura agradabilíssima para as necessidades do doente. Chico confessara que vira os Benfeitores Espirituais conduzindo aparelhagem especial para esse aquecimento. Essa aparelhagem foi retirada no dia da alta, tanto assim que permanecendo mais um dia, para poder receber os amigos que desejavam visitá-lo no Hospital, Chico sentiu frio à noite e precisou agasalhar-se, coisa que não havia acontecido até então.

Certa noite também, aconteceu algo curioso. O enfermeiro, habilmente treinado para atender aquele tipo de cirurgia, teve que fazer limpeza numa sonda e quebrou um pequeno vidro que se intercalava na sonda. Apanhando outro para substituí-lo urgentemente, não conseguiu de forma alguma colocar o vidro entre os dois ligamentos. Já estava dando sinais de afobamento, quando pedi: o senhor não quer me deixar tentar? Por gentileza lhe peço, deixe-me tentar! Ele olhou-me incrédulo, e disse: pode tentar, mas se eu que sou enfermeiro não estou conseguindo, como a senhora irá conseguir?! Contudo, deixou-me tentar. Apanhei o vidro e simplesmente o introduzi na sonda, numa única tentativa. Chico falou que viu direitinho a mão do Espírito de Meimei, por sobre a minha. Fora ela quem colocara a sonda. Perguntei, por que não fizera o mesmo com o enfermeiro. Falou Chico que para o Espírito foi mais fácil controlar o meu campo nervoso do que o do rapaz.



Rua Senador Vergueiro, 207 - Apto. 1208 - Rio de Janeiro, RJ)