Minha família católica, obrigava-nos em nossa infância o acompanhamento de catecismos, missa etc. Relutava muito contra tudo isso, pois não me afinava nesse conceito dogmático. O respeito pela família era muito grande; estávamos no tempo em que não se podia dizer não. Minha ansiedade em busca de algo que preenchesse o vazio que sentia, tornava-se cada vez maior, a religião não a supria. Papai, por decepções religiosas em seu meio, passou a estudar a Doutrina Espírita e, em seguida, a frequentar suas reuniões, das quais, participei de algumas. Menina, não entendia muito, ou quase nada.
Criando o hábito da leitura, papai colocou-me em mãos o primeiro romance espírita; como extasiou-me, busquei outros e cada vez mais interessava-me, encontrando o alimento que sustentaria os meus anseios.
Não quero demonstrar sentidos contra qualquer religião, pois, apesar de sermos espíritas, mamãe, nos derradeiros momentos de sua vida, trouxe sua palavra de fidelidade à sua crença, dizendo: “Sou católica, não posso trair minha religião mas na minha volta, serei espírita.” Este era seu conceito, o qual respeitava muito.
O tempo foi passando, casei-me, meu marido protestante, passava por vários fenômenos espíritas, obrigando-o a aceitar nossa Doutrina. Ouvia falar muito de Chico Xavier, sonhava em conhecê-lo.
Como a realização desse sonho já estava se tornando antiga, fomos a Pedro Leopoldo em abril de 1952, oportunidade em que se realiza uma comemoração do Livro Espírita, nessa cidade.
Ao chegarmos a Belo Horizonte, no remanejo das pessoas para as acomodações, pois estávamos num grupo, meu marido e eu hospedamo-nos em casa da Sra. Dolores Abreu, muito simpática, hospitaleira, adorável. Minha gratidão a essa senhora é muito grande.
A caminho do prédio de Assistência e Saúde, palco das comemorações, o Sr. Abreu chamou-nos a atenção para um aglomerado de pessoas, apontando-nos o Chico. Fui tomada de grande emoção, tremia da cabeça aos pés. Ao aproximar-me, fui logo dizendo: “Chico,estou realizando o maior sonho de minha vida”; virando-se respondeu: “Obrigado dona Daise”. Fiquei atônita, chamou-me pelo nome e sem me conhecer, e de uma forma diferente, acentuando o “á”; corrigi-lhe, falando a pronúncia ao seu ouvido, Deise: Olhou-me muito significativo e fomos assistir as palestras. Algum tempo depois, perguntei a ele o porquê de me chamar daquele jeito. Disse ter visto meu nome escrito.
Quando meu marido fazia a palestra sobre o livro espírita, classificando-o como o “Livro Divino”, Chico havia recebido pela psicografia uma mensagem de Castro Alves, com o título “O Livro Divino”. Marcava também o progresso da mediunidade de meu marido.
No dia seguinte, 22 de abril, fomos comemorar seu aniversário em sua casa, se bem que atrasado, pois nasceu em 2.4.1910. À noite, na reunião, prosseguia minha alegria; Chico pediu que me levassem ver o primeiro Centro Luiz Gonzaga, em casa de seu irmão José, onde recebera suas primeiras mensagens.
Extasiou-me sua simplicidade, as vibrações que ali sentíamos, nos transportavam para o céu. Voltamos.
Desse dia em diante, íamos visitá-lo periodicamente. Por duas vezes passamos nossas férias em Pedro Leopoldo, que marcaram dias inesquecíveis em minha vida.
Em uma das viagens, meu marido adoeceu com um espasmo cerebral, recebeu seus primeiros socorros através de Chico, colocando-se em condições para voltar ao Rio de Janeiro e continuar seu tratamento. Nessa época Chico diariamente ministrava passes em Lauro. Na volta de seu almoço, Chico passava pelo hotel Minas Gerais, onde estávamos hospedados e, em seguida, para seu trabalho na Fazenda Modelo. Com esse tratamento Lauro melhorava a olhos vistos.
Meu filho, certa ocasião, por uma intoxicação, suas mãos começaram a entortar, levando-me a grande desespero. Chico animando-me, receitou homeopatia e na 3.a dose, no mesmo dia, a melhora se fez notar.
Sempre tivemos em Chico, essa criatura boa, amiga, que mesmo estando longe permanece em nossos corações cheios da maior gratidão.
Meu esposo lhe dedicara profunda amizade e sentia por ele uma grande admiração. Várias vezes, em palestras feitas aqui no Rio, em Centros espíritas, referindo-se ao Chico, afirmava que era a pessoa mais perfeita que conhecia na Terra. Estas palavra,s eram sinceramente ditas e repetidas por ele.
Através de sua psicografia, recebi em Uberaba uma mensagem do nosso querido Dr. Bezerra, onde diz que a emoção do meu marido era grande e o impedia de dizer alguma coisa, que não podia de próprio punho escrever, mas que aguardava a oportunidade de poder dar notícias suas.
Sempre que tenho a feliz oportunidade de estar junto ao Chico, observo que, enquanto o médium palestra com alguns irmãos, outros ficam a escutá-lo atentamente, bebendo-lhe a palavra. É comum, então, ouvir-se dizer: “ Você prestou atenção ao que ele disse?”. “Respondeu à pergunta que lhe fiz mentalmente”. Outros comentam impressionados: “A carapuça veio para mim”. Perfeita. Como pode? Ele captou meu pensamento!..
As lições chegam, na conversa amiga, como mensagens diretas a quantos necessitam delas. Outras vezes, em visita ao
querido amigo em Uberaba, encontrei-me com grande número de pais aflitos, desesperados, em busca de notícias dos filhos queridos, que deixaram a vida, quase todos ainda jovens. Observe-se que nem todos são espíritas. Há. casos de pessoas sem crença que foram levadas por amigos e por misericórdia de Deus, recebem suas mensagens e saem banhadas de pranto, consoladas, impressionadas mesmo com a autenticidade dos nomes, dos fatos relatados pelos comunicantes. É a prova da sobrevivência do espírito e de sua comunicação com os encarnados.
Numa dessas ocasiões, um senhor perguntou ao Chico: “Porque ainda não recebi notícias de minha filha? Já vim aqui várias vezes e ainda não tive essa felicidade…” O Chico, amável como sempre, respondeu: “Não depende de mim, meu irmão; o telefone toca de lá para cá e não daqui para lá.” O senhor agradeceu a resposta e pensativo saiu esperando nova oportunidade.
Assisti em Uberaba, na Comunhão Espírita Cristã, uma senhora pedir ao Chico que fluidificasse a sua garrafa com água. Ele observou que ela poderia levar sua garrafa à sala de passes, onde irmãos nossos estavam realizando esse trabalho. Ela porem informou que já haviam terminado os trabalhos e insistiu, delicadamente,que ele o fizesse. Chico colocou as mãos sobre a garrafa aberta e todos nós assistimos a água tomar uma coloração leitosa e, no mesmo instante, suave perfume de rosas invadiu o ambiente e foi sentido por todos os presentes, extasiados.
Eu e meu esposo, quando encarnado, por várias vezes fomos agraciados em receber do médium lenços ensopados de perfume, que perdurava por muito tempo. A água fluida a mesma coisa, seu perfume modificava-se dentro das necessidades de cada um.
Lembro-me de uma reunião em Pedro Leopoldo onde todos nós recebemos uma espécie de “chuvinha miúda” de perfume, para tratamento de vários irmãos presentes, e no final fortíssimo cheiro de éter. Maravilhoso.
Ainda em Pedro Leopoldo, em casa de André irmão de Chico, recebíamos pelas suas abençoadas mãos, uma linda e comovente carta de meu pai, onde confirmava nas suas primeiras linhas a identificação da caligrafia dele.
Perante a humanidade conturbada de hoje, ele cumpre fielmente a destinação sublime de esclarecer os homens através dos livros recebidos da Espiritualidade Maior, como arauto das Verdades Divinas, conclamando-os a praticarem os ensinamentos do Cristo Eterno e por seus exemplos de amor ao próximo, de humildade e de trabalho, ele dá a maior lição viva que repercutirá nos tempos que advirão.
Sua figura espiritualizada de líder do cristianismo redivivo, sempre exerceu sobre mim a mais benéfica influência. O seu viver simples de homem bom, a sua palavra evangelizadora, a sua fidelidade à Doutrina Espírita, aliada à enternecedora modéstia que o tornam um verdadeiro Seareiro do Senhor, marcaram fundo o espírito que sou, ensinando-me a entender a vida, consolidar minha fé e a esforçar-me no serviço cristão.
Sabe, Chico é um amor! Ele tem sido e será sempre para mim o modelo, o guia, o amigo, o cristão no seu profundo sentido. Pela alma e pelo coração, tenho por ele o mais puro sentimento e sinto-o tão antigo, que creio ter começo num passado muito longínquo. É como se fora um pai muito querido que reencontrei pelos caminhos da vida e que tem me dado as mãos guiando-me com o seu coração amigo.
Os seus cinquenta anos de mediunidade, considero como doação integral de uma vida ao trabalho do Senhor.
A sua conscientização no que seja a responsabilidade de uma missão a cumprir é extraordinária. O Chico não se restringe a psicografia pela qual recebeu uma centena e meia de livros em prosa e verso, sobre religião, filosofia e ciência, romances espalhados pelo mundo e traduzidos em vários idiomas, levando a paz, o amor e a sabedoria.
Ele é a criatura singular que tem o tempo destinado somente às coisas de Deus.
Milhões de pessoas já lhe beijaram as mãos e o rosto; já lhe ouviram a palavra orientadora; já receberam a resposta elucidativa às perguntas feitas sobre todos os assuntos desde o mais íntimo ao mais transcendental, já sentiram a paz que dele emana aos que estão ao seu lado; tiveram consolo em momentos de dor; presenciaram a sua paciência e o respeito que tem por todos; possuem uma dedicatória carinhosa em um livro; já viram seu amor aos menos afortunados da vida, em forma de ajuda material e espiritual, que nesses longos e abençoados anos leva pessoalmente a esses irmãos; já assistiram inúmeras vezes passar mais de 12 horas consecutivas atendendo uma multidão que o espera ansiosa por uma palavra ou autógrafo. Com a paciência Divina e a resistência do forte, atende a todos com abraços; beijos e sorrisos.
Cinquenta anos de renúncia para dedicar-se ao serviço mediúnico abençoado, que desde os seus primeiros anos lhe exigiu sacrifícios e muito amor.
Nesta era da comunicação não se tem notícia de uma vida igual.
Gostaria de finalizar este depoimento com uma cena que assisti em Pedro Leopoldo, quando inúmeras pessoas formavam uma fila para falar com Chico. Uma moça de aparência humilde e simpática, procurava-o para um problema com sua filha. Beijou as mãos de Chico, sendo retribuída em seguida com o mesmo gesto. Uma pessoa a meu lado, moradora na cidade, dizia-me ser ela uma pessoa de vida fácil. Chico, paternalmente, atendeu-a, orientou-a, animou-a e ao despedir-se beijou-lhe as mãos nova mente, recebendo em troca “Muito obrigado seu Chico. Deus lhe pague”.
A noite, na peregrinação, o acompanhávamos num grupo pelas ruas da cidade, com lampiões e lanternas quando passávamos por um bar onde haviam várias pessoas no seu interior e nas portas, ouviu-se uma voz que dizia: “Olha, lá vai o seu Chico, vai com Deus e reze por mim”.
Ele, olhando-a de onde se encontrava, respondeu: “Fica com Deus minha filha”.
A emoção invadiu-me a alma, ao saber que aquela voz era da mulher que o havia procurado na véspera para o conselho no centro: Lembrei-me da passagem evangélica do Meigo Jesus e a pecadora. “… Vai e não peques mais”. (Jo
Atualmente, quando os preconceitos continuam afastando as criaturas umas das outras, Chico personifica o “Amai-vos uns aos outros como vos amei”, (Jo
(Rua do Rocha, 109 - Rio de Janeiro, RJ.)