Mediunidade E Sintonia

Capítulo XII

Estudando o bem e o mal



Para que sejamos intérpretes genuínos do bem, não basta desculpar o mal. É imprescindível nos despreocupemos dele, em sentido absoluto, relegando-o à condição de efêmero acessório do triunfo real das Leis que nos regem.

Evitando comentários complexos em nosso culto à simplicidade, recorramos à Natureza.

Vejamos, por exemplo, o apelo vivo da fonte.

Quantas vezes terá sido injuriada a água que hoje nos serve à mesa?

Do manancial ao vaso limpo, difícil trajetória cumulou-a de vicissitudes e provações.

O leito duro de pedra e areia…

A baba venenosa dos répteis…

O insulto dos animais de grande porte…

O enxurro dos temporais…

Os detritos que lhe foram arrojados ao seio…

A fonte, entretanto, caminhou despretensiosa, sem demorar-se em qualquer consideração aos sarcasmos da senda, até surpreender-nos, diligente e pura, aceitando o filtro que lhe apura as condições, a fim de que nos assegure saciedade e conforto.


Segundo observamos, na lição aparentemente infantil, o ribeiro não somente olvidou as ofensas que lhe foram precipitadas à face.

Movimentou-se, avançou, humilhou-se para auxiliar e perdoou infinitamente, sem imobilizar-se um minuto, porque a imobilidade para ele constituiria adesão ao charco, no qual, ao invés de servir, converter-se-ia tão só em veículo de corrupção.

É por isso que o ensinamento cristão da caridade envolve o completo esquecimento de todo mal.

“Que a vossa mão esquerda ignore o bem praticado pela direita.” (Mt 6:3) Semelhantes palavras do Senhor induzem-nos a jornadear na Terra, exaltando o bem, por todos os meios ao nosso alcance, com integral despreocupação de tudo o que represente vaidade nossa ou incompreensão dos outros, de vez que em qualquer boa dádiva somente a Deus se atribui a procedência.

Procurando a nossa posição de servidores fiéis da regeneração do mundo, a começar de nós mesmos, pela renovação dos nossos hábitos e impulsos, olvidemos a sombra e busquemos a luz, cada dia, conscientes de que qualquer pausa mais longa na apreciação dos quadros menos dignos que ainda nos cercam será nossa provável indução ao estacionamento indeterminado no cárcere do desequilíbrio e do sofrimento.