Ressentimento não se constitui tão só do azedume que se nos introduz no espírito, quando a incompreensão nos torna intolerantes, à frente das grandes dificuldades de alguém.
Existem igualmente os pequeninos contratempos do cotidiano que, sem a precisa defesa da vigilância, acabam por transformar-nos o coração em vaso de fel, a expelir germes de obsessão e desequilíbrio, ambientando a enfermidade ou favorecendo a morte.
Analisemos essas diminutas irregularidades que nos será lícito classificar como sendo cargas de sombra íntima:
o descontentamento à mesa porque a refeição não apresente o prato ideal;
a impaciência ante a condução retardada;
a indisposição contra o clima;
a contrariedade em serviço;
o constrangimento para desculpar um amigo;
o mal-estar perante um desafeto;
o melindre desperto, em ouvindo opiniões que se nos mostrem desfavoráveis;
o desagrado nas compras;
o desgosto injustificável em família, unicamente pelo motivo desse ou daquele parente não pensar pela nossa cabeça;
os cuidados exagerados com obstáculos naturais na experiência comum;
a pressa e a agitação desnecessárias;
o descontrole ante uma visita-problema;
a exasperação diante de uma tarefa extra-programa;
o desespero contra as provas inevitáveis que a vida nos oferece a cada um.
Tanto pesa na balança o quilo de chumbo em massa, quanto o quilo de palha nela depositado, de haste em haste.
Meditemos, em torno disso, e reconheceremos que o perdão incondicional deve também alcançar as mínimas circunstâncias que se nos façam adversas.
Em síntese, para que a paz more conosco, assegurando-nos proveito e alegria, nos caminhos do tempo, é forçoso não apenas trabalhar e servir sempre, mas igualmente compreender e abençoar.