Habitualmente recorremos à parábola do bom samaritano (Lc
Tendo visto o sacerdote e o levita que passaram de largo, possivelmente perguntou a si mesmo de que lhe valeriam a cultura e a preparação espiritual deles se o abandonavam ao próprio desvalimento; e, observando o samaritano que se aproximava, não indagou quem era ele, o que era, o que sabia, o que detinha ou para onde se encaminhava… Com os olhos, suplicou-lhe amparo e, no silêncio do coração, agradeceu-lhe a bênção dos braços estendidos.
A narração de Jesus fala de dois homens evidentemente qualificados para a prestação de serviço, que se deram pressa em se afastar, no resguardo das próprias conveniências, e menciona outro, completamente desconhecido, que se consagrou ao mister da solidariedade; com isso, o Divino Mestre nos conclama a todos para as tarefas do auxílio mútuo.
Bastas vezes, perante os acidentados e espoliados do corpo ou da alma, formulamos escapatórias, no só intuito de sonegar os tributos naturais da fraternidade. Em várias ocasiões, instados ao socorro por aqueles companheiros de experiência que sofrem muito mais que nós, repetimos displicentemente: “quem sou eu?”, “não presto”, “sou um fardo de imperfeições” ou “quem me dera poder!”…
Situemo-nos, porém, no lugar e na angustiosa expectativa do irmão caído na estrada e reconheceremos que Jesus nos espera como somos e como estamos para servir, porquanto, servindo, acabaremos aprendendo que todos somos filhos de Deus e que, se hoje desfrutamos o privilégio de dar, talvez amanhã estejamos com a necessidade de receber.
(Reformador, agosto 1969, p. 184)