Ninguém nega que provações amargam, que lutas complicam, que desentendimentos dificultam, que ofensas ferem. Ninguém nega isto.
Entretanto, é imperioso considerar tudo isso na condição real com que se apresenta na escola da vida, isto é, por material didático imprescindível na elucidação e no aperfeiçoamento da alma.
Rememora, a título de estudo, os últimos dez anos de existência, sobre os quais te eriges fisicamente agora.
Examina a transitoriedade de todas as ocorrências que te entretecem a paisagem exterior.
Enumera os obstáculos que atravessaste, muitos dos quais se te figuravam montanhas de aflição, e que hoje se te transformaram em experiências benditas.
Recorda os companheiros que se distanciaram de ti ou dos quais te distanciaste, cuja ausência, antes da separação, te parecia insuportável e que atualmente resguardas na memória por benfeitores a que te reúnes, em espírito, dentro de mais altas dimensões de harmonia e entendimento.
Conta os problemas de família que te agrediam antigamente, à feição de pesadelos, presentemente convertidos em vantagens e bênçãos, no caminho da própria vida.
Anota o número de pessoas que, em outras ocasiões, interpretavas por adversários potenciais e que o tempo transfigurou em refúgios de paz e compreensão em teu benefício.
E pondera quanto aos amigos que acreditavas detentores de longa existência, no corpo terrestre, e que, com surpresa, viste partir, no rumo da Espiritualidade Maior, antes de ti.
Revisa tudo o que enxergaste, ouviste, acompanhaste e empreendeste, em apenas dois lustros de permanência na Terra, e verificarás que uma só luz persiste, acima de todos os fenômenos e acontecimentos do dia a dia, — a luz do amor que colocaste no dever retamente cumprido, perante as criaturas e ideais a que empenhaste o coração com o trabalho no bem dos outros, luz que permanece inapagável em nós e por nós, a iluminar-nos a estrada para a felicidade verdadeira, hoje e sempre.