Opinião espírita

Capítulo XI

Ante o próximo mais próximo




Aconselha, mas esquece o sarcasmo. Se a ironia carreia fugaz bom humor, gera duradouro ressentimento…

Indaga, mas controla a própria curiosidade. Há venenos de que basta apenas o cheiro para empeçonhar quem os aspira…

Trabalha, mas não se incomode à sombra do anonimato. As raízes que sustentam as grandes árvores são vivas e poderosas na obscuridade do chão…

Prega, mas governa a própria língua. As pedras não se levantam e nem se arremessam por si mesmas…

Coopera, mas foge à crítica. Quem usa vergastas de lama acaba lambuzado por ela… Chora, mas estuda a razão das próprias lágrimas. Há muito pranto formado pelos quistos da malquerença ao calor da discórdia…

Sê enérgico, mas brando ao mesmo tempo. Tanto a seca quanto a enchente trazem prejuízo e destruição…

Sofre, mas espera e confia. As provações, à maneira das nuvens, são nômades no caminho…

Busca orientação, mas poupa o benfeitor espiritual. O amigo encarnado ou desencarnado não é ponto a cochichar-te o dever diuturno, nas representações que te cabem no teatro da vida…

Ajuda, mas indistintamente. Os seguidores do Excelso Mestre são todos irmãos na consanguinidade sublime do amor…

Ante o próximo mais próximo, sintamo-nos sob as bênçãos do Criador, na certeza de que todas as criaturas existem e crescem interligadas no abraço universal da fraternidade.

No serviço desinteressado e espontâneo, movamos a trolha da fé viva e operante, elevando o prumo do discernimento e assentando o nível do bom ânimo para construir as obras do bem.

Para a frente e para o alto!

Rompendo as ondas adversas, no roldão dos vendavais, que a nossa agulha de marear tenha sempre por mira o porto da caridade.

Partamos da semente à seara, através das folhas da esperança e das flores do trabalho para atingir os frutos opimos da evolução que o Senhor espera de nós.

Demandemos a vanguarda com os lábios borbulhantes de compreensão e alegria, entoando o hino triunfal da bondade constante, trazendo à memória a palavra de Jesus nas páginas contagiosas do Evangelho:

— “Vinde a mim, benditos de meu Pai, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me saciastes; estive nu e me vestistes; estive enfermo e prisioneiro e me visitastes.” (Mt 25:34)

Somente assim atenderemos ao divino chamado, comparecendo diante do Cristo para repetir com os servos fiéis:

— “Senhor, eis-nos aqui! Faça-se em nós, segundo a tua vontade.” (Lc 1:38)




(Psicografia de Waldo Vieira)