Opinião espírita

Capítulo L

Quando sofreres




Quando sofreres, pensa no indefinível poder de renovação que flui dos vencidos!…

Os gritos dos déspotas da antiguidade que pompeavam irrisório triunfo desapareceram, encaminhados pela morte à piedade da cinza para que se lhes apagasse a memória, mas a justiça tomou as lágrimas de quantos lhes caíram sob os carros sanguinolentos para gravar as leis que enobrecem a Humanidade.

Os sarcasmos dos que traficavam com a vida dos semelhantes foram abafados na estreiteza do túmulo, mas o pranto dos escravos, que cambaleavam aos rebenques do cativeiro, lavou os olhos das nações conscientes, para que contemplassem o clarão inextinguível da liberdade.

Quando sofreres por alguém ou por alguma causa nobre, medita naquele que a Sabedoria Divina enviou à Terra, para o engrandecimento de todos.

A Eterna Bondade fê-lo nascer, sob cânticos angélicos ao fulgor de uma estrela, e consentiu que se lhe negasse um berço entre os homens.

Situou-lhe a divina embaixada, entre aqueles que detinham no mundo as mais elevadas noções religiosas e não impediu lhe ignorassem a presença.

Dotou-o de carismas sublimes com que reerguesse os paralíticos e iluminasse os cegos e deu-lhe a estrada por moradia.

Colocou-lhe a ciência do Universo na palavra simples, mas não lhe deu qualquer cenáculo de pedra aos ensinos, conquanto providenciasse para que os deserdados e os enfermos, os cansados e os infelizes lhe integrassem a assembleia de ouvintes na largueza do campo.

Revestiu-lhe a influência pessoal com todos os atributos do bem e deixou que o mal lhe alcançasse o círculo dos amigos mais íntimos.

E quando lhe tapizaram o caminho com palmas de vitória, (Mt 21:8) no intuito de lhe entregarem o cetro da autoridade, permitiu que a sombra envolvesse aqueles que mais o admiravam e, quase defronte a eminência do Moriah, em cujo tope se erguia o templo de Salomão, como sendo o mais suntuoso dos monumentos levantados na Terra, em louvor do Deus único, não obstou se lhe desse um monte desolado para a morte num lenho entre malfeitores, (Lc 23:33) a fim de que ele formasse entre os milhões de aflitos e incompreendidos de todos os tempos!…


Quando sofreres para que haja bondade e verdade, felicidade e concórdia, pensa em Cristo e compreenderás que ninguém consegue realmente auxiliar a ninguém sem amor e sem dor.




(Psicografia de Francisco C. Xavier)