Opinião espírita

Capítulo IX

Estar com tudo




Frequente encontramos companheiros de excelente formação moral convictos de que atender à caridade será aceitar tudo e que a paciência deve tudo aguentar.

A evolução, no entanto, para crescer, exige muito mais a supressão que a conservação.

Em nenhum setor da existência o progresso e a cultura se compadecem com o “estar com tudo”.

A caridade da vida é aperfeiçoamento.

A paciência da natureza é seleção.

Todas as disciplinas que acrisolam a alma cortam impulsos, hábitos, preferências e atitudes impróprias à dignidade espiritual.

Todos os seres existentes na Terra se aprimoram à medida que o tempo lhes subtrai as imperfeições.

Na experiência cotidiana, os exemplos são ainda mais flagrantes.

Compra-se de tudo para a alimentação no instituto familiar, mas não se aproveita indiscriminadamente o que se adquire.

O corpo, a serviço do Espírito encarnado, às vezes se nutre com tudo, mas nunca retém tudo. Expulsa mecanicamente o que não serve.

No plano da alma, a lógica não é diferente. Podemos ver, ouvir e aprender tudo, mas se é aconselhável destacar a boa parte de cada cousa, não é compreensível concordar com tudo.

Necessário ver, ouvir e aprender com discernimento. Imprescindível observar um companheiro mentalmente desequilibrado com caridade e paciência, mas em nome da caridade e da paciência não se lhe deve assimilar a loucura.

Devemos tratar com benevolência e brandura quantos não pensem por nossa cabeça, entretanto, a pretexto de lhes ser agradáveis não se lhes abraçará os preconceitos, enganos, inexatidões ou impropriedades.

A Doutrina Espírita está alicerçada na lógica e para sermos espíritas é impossível fugir dela.

Há que auxiliar a todos, como nos seja possível auxiliar, mas tudo analisando para que o critério nos favoreça…

Paulo de Tarso, escrevendo aos coríntios, afirmou que “a caridade tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, (1co 13:7) mas não se esqueceu de recomendar aos tessalonicenses que examinassem tudo, retendo o bem. (1ts 5:21)

Admitamos assim, com o máximo respeito ao texto evangélico que o apóstolo da gentilidade ter-se-ia feito subentender naturalmente, explicando que a caridade tudo sofre de maneira a ser útil, tudo crê para discernir, tudo espera de modo a realizar o melhor e tudo suporta a fim de aprender, mas não para estar em tudo e tudo aprovar.




(Psicografia de Waldo Vieira)