Opinião espírita

Capítulo XXXVI

Necessitados difíceis




Em muitas circunstâncias na Terra, interpretamos as horas escuras como sendo unicamente aquelas em que a aflição nos atenaza a existência, em forma de tristeza, abandono, enfermidade, privação…

O espírita, porém, sabe que subsistem outras, piores talvez… Não ignora que aparecem dias mascarados de felicidade aparente, em que o sentimento anestesiado pela ilusão se rende à sombra.

Tempos em que os companheiros enganados se julgam certos…

Ocasiões em que os irmãos saciados de reconforto sentem fome de luz e não sabem disso…

Nem sempre estarão eles na berlinda, guindados, à evidência pública ou social, sob sentenças exprobatórias ou incenso louvaminheiro da multidão…

Às vezes, renteiam conosco em casa ou na vizinhança, no trabalho ou no estudo, no roteiro ou no ideal… O espírita consciente reconhece que são eles os necessitados difíceis das horas escuras. Em muitos lances da estrada, vê-se obrigado a comungar-lhes a presença, a partilhar-lhes a atividade, a ouvi-los e a obedece-los, até o ponto em que o dever funcional ou o compromisso doméstico lhe preceituem determinadas obrigações.

Entretanto, observa que para lhes ser útil, não lhe será lícito efetivamente aplaudi-los, à maneira do caçador que finge ternura à frente da presa, a fim de esmagá-la com mais segurança.

Como, porém, exercer a solidariedade, diante deles? — perguntarás. Como menosprezá-los se carecem de apoio?

Precisamos, no entanto, verificar que, em muitos requisitos do concurso real, socorrer não será sorrir.

Todos conseguimos doar cooperação fraternal aos necessitados difíceis das horas escuras, seja silenciando ou clareando situações, nas medidas do entendimento evangélico, sem destruir-lhes a possibilidade de aprender, crescer, melhorar e servir, aproveitando os talentos da vida, no encargo que desempenham e na tarefa que o Mestre lhes confiou. Mesmo quando se nos façam adversários gratuitos, podemos auxiliá-los …

Jesus não nos recomendou festejar os que nos apedrejem a consciência tranquila e nem nos ensinou a arrasá-los. Mas, ciente de que não nos é possível concordar com eles e nem tampouco odiá-los, exortou-nos claramente: “amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem e caluniam!…” (Mt 5:44)

É assim que a todos os necessitados difíceis das horas escuras, aos quais não nos é facultado estender os braços de pronto, podemos amar em espírito, amparando-lhes o caminho, através da oração.




(Psicografia de Francisco C. Xavier)