Algema tenebrosa é a carne louca, Onde o espírito, em lágrimas, se prende Perambulando como um triste duende, Bebendo o pus das fístulas da boca.
Viver entre os sentidos incompletos, Na existência das coisas fragmentárias, Começando nas dores solitárias, Da vida melancólica dos fetos.
Vaso de tegumentos e de humores É o corpo, imagem viva do defunto, O miserabilíssimo transunto Das condições mais tristes e inferiores.
Desprezar toda a luz, radiosa e viva Para viver na carne é descer quase Da consciência divina à horrenda fase Da irracionalidade primitiva.
Carne!. . . Nossa amargura original, Antes sobre o planeta nunca houvesse O princípio ancestral da tua espécie, Nos mistérios da vida universal. . .
Augusto dos Anjos
Versos recebidos em Pedro Leopoldo a 25 de setembro de 1935