Pedro Leopoldo, 11 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) – O feminismo, logo se vê, não podia escapar às cogitações dos consulentes de Chico Xavier. Não fosse essa uma das maiores preocupações do próprio século.
– Qual a opinião dos espíritos sobre o feminismo?
Simples, direta, sem malícia nem animosidade.
E assim também é a resposta dada pelo guia e protetor do "médium".
Na resposta, não está explícito pròpriamente um pronunciamento geral dos "espíritos" como pede a pergunta. Como porém o guia não faz restrição alguma às suas palavras, parece-nos que podemos aceitá-las como um ponto de vista coletivo. E este, como se verá, não é de todo favorável ao sentido tomado pelas chamadas conquistas feministas no panorama contemporâneo.
– A mulher deve colaborar com o homem, de forma admissível ao seu sexo, nas variadas esferas de sua atividade. Mas não compreendemos como legítimo esse movimento de masculinização, espetaculosa, preconizada por inúmeros orientadores do mau feminismo, os quais iludem a mulher quanto às suas obrigações no seio da coletividade.
O homem e a mulher, dependendo um do outro, são elementos que se completam para a consecução da obra divina.
A mulher não precisa masculinizar-se. Precisa educar-se dentro da sua feminilidade.
O problema do feminismo não é o da exclusão da dependência da mulher: deve ser o da compreensão dos seus grandes deveres. Dentro da natureza, as linhas determinadas pelos desígnios insondáveis de Deus não se mudam sob a influência do limitado arbítrio humano; e a mulher não pode transformar o complexo estrutural do seu organismo.
Homem e mulher, cada um deles tem obrigações nobilíssimas a cumprir nas posições diferentes em que foram colocados dentro do planeta. Aliás, na humanidade, a mulher, por sua profunda capacidade receptora, guarda os deveres mais sagrados diante das leis divinas.
Todas as questões feministas se reduzem a um problema de educação mais do que necessária.
Neste século, as experimentações tocam ao auge. A mulher não podia escapara essa onda de transições. Todavia, faz-se preciso conter o delírio, a alucinação de mentalidades apaixonadas, nos excessos de idealismo, e que se voltam para o campo da publicidade, falhas no conhecimento imprescindível dai realidades da vida, sem saber o que desejam e sem nada trazer de melhor aos que se formam para as lutas da existência, intoxicando o espírito da juventude. As ideias são forças que, como a eletricidade, arruínam o que encontram na sua passagem, quando não são devidamente controladas. Toda a força necessita de educação para se expandir com benefícios.
O problema da mulher, antes de ser estudado dentro dos códigos transitórios dos homens, precisa ser resolvido à luz do Evangelho.
Emmanuel
O que dissemos em relação ao feminismo, poderíamos repetir quanto às questões sociais em geral: as indagações são muitas a respeito.
Uma dessas é a seguinte; "Que pensam os espíritos das desigualdades sociais?" A indagação é das que convidam aos debates longos e às demoradas dissertações.
Emmanuel, porém, vale-se aí mais uma vez do seu admirável poder de síntese para responder: "O problema das desigualdades sociais afronta os pensadores desde a aurora dos tempos". É preciso, contudo, considerar-se que se a pobreza luta com infortúnios e adversidades, a riqueza e a autoridade implicam deveres muito sagrados diante das leis humanas e divinas dos quais decorrem responsabilidades temíveis para quantos não os saibam cumprir.
Em tese, as classes existiram e existirão sempre. O que, porém, deve preocupar os sociólogos modernos é estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.
A evolução dos povos significa a evolução de seus códigos.
Cremos, portanto que em futuro próximo os fenômenos sociais serão controlados com mais critério na esfera político-administrativa como medida necessária imposta pela evolução geral.
Emmanuel