Parnaso de além-túmulo

Capítulo XI

João de Deus



Nascido em S. Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830, e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa. E tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita, de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.


AS LÁGRIMAS

Desci um dia

Ao sorvedouro

Da atra agonia

Da Humanidade,

A procurar,

A perscrutar

Qual a verdade,

Qual o tesouro

O mais profundo,

Que neste mundo

O homem prendesse

E o retivesse.


E vi, então,

No coração

Da criatura,

Só a ilusão

Duma ventura.


E vi senhores

Que dominavam

E se orgulhavam

Do seu poder,

Sempre a abater

Os desgraçados.


Os potentados

Com seus valores

Bem se julgavam

Onipotentes,

Heróis valentes

Cá nesta vida…

Depois, porém,

Reconheceram

E viram bem

Nesta existência

Toda a impotência

Do deus-milhão,

Perante a mão

Da fria dor,

Que lhes domava

E lhes dobrava

O torpe egoísmo.


Busquei os lares,

Ricos solares

Dos protegidos,

Onde o conforto

Para a matéria

Anda em contraste

Com atroz miséria

Dos desvalidos.

E ainda aí

Não pude achar

O que eu ali

Fui procurar.


Eu vi mulheres

Nos seus prazeres,

Jovens e belas,

Alvas estrelas

De formosura,

Rindo e cantando

Dentro da noite

Da desventura.

Pobres donzelas,

Fanadas flores…

Luz sem fulgores,

Que, miseráveis

Párias da vida

Deixam o teto

Do seu afeto

Maior, supremo,

Insuperável.

Somente encontram

Dores que afrontam,

Mágoa insanável,

Incompreendida!


E penetrei

Pelos castelos

Dourados, belos,

Das diversões,

Onde se aninha

E se amesquinha

A multidão

Que busca rir,

Gozar, sorrir,

A ver se esquece

O que padece,

Julgando crer

Que está a ver

O paraíso.

Mas este riso,

Ao som da festa,

À meia luz,

É o que produz

Todo o amargor,


A maior dor,

Pois eu ali

Tristonho vi

O que em verdade

É a sociedade;’

É a sociedade;

Só pensamentos

Das impurezas,

Só sentimentos

Que trazem presas,

Aniquiladas,

E esmagadas,

Ensandecidas

As criaturas

Outrora puras,

Belas outrora,

No entanto agora

Flores perdidas,

Almas impuras,

Desiludidas!

Nesse recinto

Eu vi, então,

A traição,

A iniquidade,

A grosseria,

Toda a maldade

Da hipocrisia;

E tudo, enfim,

Tristonho assim,

Dissimulado,

Falsificado

No fingimento

Que aparecia

No barulhento

Rumor de vozes,

Notas atrozes,

De uma alegria


Jamais sentida,

Desconhecida

Naquele meio.


Eu contemplei-o

Cheio de horror

E vi que as flores,

As pedrarias

Tão luminosas,

Eram sombrias,

Eram trevosas,

Pois só cobriam

Míseros trapos,

Pobres farrapos

De almas perjuras

Ao seu Criador,

Fracas criaturas

Baldas de amor.

E, condoído,

Desiludido,

Desanimado,

Num forte brado

Disse ao Senhor:


«Onipotente

Pai de Bondade,

Oh! tem piedade

Dos filhos teus

Que choram, gemem,

Pálidos tremem

Ó Senhor Deus!

Faze que a luz

Do bom Jesus

Penetre a alma

Na Terra aflita,

Dando-lhe a calma

Que necessita.

Só conheci

E encontrei,

Só contemplei

O mal que vi.»


Mas uma voz

Do azul do Céu,

Pronta e veloz,

Me respondeu:


«Filho bendito

Do meu amor,

Sou teu Senhor,

E no Infinito

Tudo o que fiz,

Nada se perde,

Assim tornando

O ser feliz.

Contempla, ainda,

A Terra linda

E então verás,

Donde provém

A grande paz,

O sumo bem.

O grão tesouro,

Mais fino ouro

Dos filhos meus,

Está na luta,

Nos prantos seus,

Que lhes transforma

A alma poluta

Num ser radioso,

Astro formoso

De pura luz!»


Eu ajoelhei

E contemplei

As multidões

Atropeladas,

Desenganadas

as perdições.

Vi transformadas

Todas as cenas;

Em todos seres,

Homens, mulheres,

Jovens, crianças,

Nas grandes penas,

Nas esperanças,

Por entre a luz,

Por entre flores,

Brotar a flux

No coração

De cada ser,

Em profusão,

Gotas pequenas

Como as brilhantes

Luzes serenas

Das madrugadas

Primaveris.


Reconheci

Que por aí

Na escura Terra

Onde eu amei,

Sorri, chorei,

Onde sofri

E onde eu vi

A dura guerra,

A amarga dor,

Lágrimas belas,

Gotas singelas,


Meigas, serenas,

Eram açucenas

De fino olor

Do espaço azul!


Depois, eu vi

Que os que as vertiam

Por este mundo,

Vale profundo

De mágoa e dor,

Quando voltavam

Do seu exílio,

Eram saudados

Por mensageiros

De amor e luz

Do bom Jesus,

Que os coroavam

Com gemas finas,

Joias divinas

Do escrínio santo,

Primor de encanto

Do amor de Deus.


Fui então vendo,

Reconhecendo

Que aqui nos Céus,

Lágrimas lindas

São transformadas,

Remodeladas

Para formarem

Belo diadema

E aureolarem


Os que as verteram

Aí na Terra.


E vi, então,

Em profusão,

Gemas brilhantes,

Alvinitentes,

Ricas, fulgentes

E deslumbrantes,

Que nem Ofir

Pôde possuir.


Sejam benditas,

As pequenitas

Gotas de pranto,

Orvalho santo

Do amor divino

Que dá ventura,

Tranquilidade,

Felicidade

Ao peregrino.

Bendito o Pai,

O Nosso Deus

Que abranda o ai

Dos filhos seus;

Que a alegria

E a paz envia

À Humanidade

Tão sofredora,

Com a lágrima bela,

Luzente estrela

Consoladora!


O CÉU

Pátria ditosa e linda, e onde o mal

Desaparece ao meigo olhar do Amor,

Que entre os seres do Além é sempre igual,

No mesmo anseio santo e superior!


Lá não se vê traição e cada qual

Urde ali sua auréola de esplendor,

Doce Mansão de Paz, imaterial,

Onde impera a bondade do Senhor!


Porto de Salvação para quem crê

Nessa Praia do Azul, que se antevê,

Pelo poder da Fé, na provação;


País dos Céus, aonde o pecador,

Depois de bem sofrer aí a dor,

Vai ali encontrar Consolação.


MORRER

Não mais a dor intensa e desmedida

No momento angustioso de morrer,

Nem o pranto pungente por se ver

Um ser amado em horas da partida!..


A morte é um sono doce; basta crer

Na Paz do Céu na Terra apetecida,

Para se achar o Amor, a Luz e a Vida,

Onde há trégua à tristeza e ao padecer.


Venturosa região do espaço Além,

Onde brilha a Verdade e onde o Bem

É o fanal reluzente que conduz;


Mansão de claridade e pulcritude,

Onde os bons, que adoraram a Virtude,

Gozam do afeto extremo de Jesus.


O MAU DISCÍPULO

Era uma alma

Formosa e bela:

Fúlgida estrela

De puro alvor,

Que habitava

Qual uma flor

O espaço infindo,

Imenso e lindo,

Nessas regiões

Onde há mansões

Purificadas,

Iluminadas

Do Criador.


Porém, um dia,

Disse Jesus

A quem vivia

Em meio à luz:


«Filho querido,

Estremecido,

Dos meus afetos!

Tu necessitas

Buscar a Vida

Em meio às vagas

Das provações!

Dentro das lutas,

Tredas disputas

Do Bem, do Mal,

É que verei

Se o que ensinei

Ao teu valor,

Aproveitaste

E assimilaste

Em benefício

Da lei do amor,

Do sacrifício!…

Tens a fraqueza

Da imperfeição;

Aqui, porém,

Já te mostrei

A lei do amor,

Luz do Senhor —

O sumo bem.


Tu lutarás,

Mas vencerás

Se bem souberes

Te conduzir

Nesses caminhos

Entre prazeres,

Risos e flores,

Por entre espinhos,

Mágoas e dores…

E se aprenderes

Saber viver,

Sorrir, sofrer,

Conquistarás

A grande paz,

A grande luz

Que eu, teu Jesus,

Reservarei

E hei-de guardar

Para a tua alma,

Ao regressar.


A dor, somente

A luta amara

Lá nos prepara

Para vivermos,

Tranquilamente,

Nessas moradas

Iluminadas

Do nosso Pai!

Luta e trabalha

Singelamente

Nessa batalha

Que te ofereço,

Pra conquistares

A luz, o amor

Do teu Senhor.

Tu viverás

Entre os brasões

Das ilusões

Da Terra impura;


Conhecerás

Lindas riquezas

Iluminando

E te ensinando

O bom caminho,

A boa estrada

E com carinho

Sempre a mostrar-te

A caridade

Com toda a luz

Que ministrei

Ao teu pensar,

E ora conduz

Teus sentimentos,

Teus pensamentos,

À perfeição

Do coração.


Caminha avante,

Na deslumbrante

Rota do amor!

Espalha o olor

Que já plantei

E fiz brotar,

Que cultivei

Dentro em teu ser.

Sê sempre amigo

Dos sofredores.

Dos que padecem

Sem conhecer

Sequer abrigo

Onde isolar-se,

Onde guardar-se

Das fortes dores

Que acometem

Os sofredores.


Sê a Bondade

Entre a maldade

Dos homens feros,

Ambiciosos,

Frios, austeros,

Pecaminosos.


Se assim fizeres

E procederes,

Sempre cumprindo

Os teus deveres,

Tornar-te-ás

Em verdadeiro

Anjo da paz,

Em mensageiro

Do Deus de amor.

Assim darás

À Humanidade

O testemunho

Da caridade

Do teu Senhor!»


A alma formosa

Então desceu

Para lutar,

A conquistar

Maior ventura,

Rútila e pura

Aqui no Céu.


Então, nasceu

Num lar ditoso,

Régio, faustoso,

Dos venturosos,

Onde a alegria

Reinava, e ria

Constantemente,

Proporcionando

À rica gente

Que o habitava

Os belos gozos,

Lindos, formosos,

Mas irreais,

Desses palácios

Materiais.

Ainda criança,

Era adorado,

Felicitado

Nessa abastança;

Naquele lar,

Rico alcaçar

Dos abastados.

Ele então era

A primavera

Dos áureos sonhos

Dos pais amados!


Assim cresceu,

Belo esplendeu,

Na mocidade.

Ganhou saber

Nobilitante,

À luz brilhante

Dessa ciência

Que, na existência,

Por planetária,

Faz com que a alma

Se torne egoísta

E refratária

À lei de Deus.

Tornou-se esquivo,

Cruel e altivo

À Humanidade,

Não praticando

Mas renegando.

A caridade.


O que aprendera

No Infinito

E prometera

Ao bom Jesus,

Tudo esquecera

Em detrimento

Do sentimento

Que então trouxera,

Cheio de luz.

Refugiou-se

Na vã Ciência,

Despreocupou-se

Com a consciência.

Na Academia

Dos homens sábios,

Ele esplendeu

No vão saber;

O infeliz ser

Viveu dos lábios,

Seu coração

Jamais viveu!

Foi uma flor,

Mas sem olor;

Fulgiu, brilhou,

Mas renegou

A lei do amor.

E da existência

Da própria alma

Por fim descreu,

A relegar,

Como um ateu,

Filho do Mal,

A imensa luz

Espiritual.


Foi refratário

Ao próprio afeto

Dos pais que o amavam

E idolatravam

Com mór ternura,

Dele esperando

Sua ventura.

Os próprios filhos,

Suaves brilhos

Da nossa vida,

Nossa esperança

Encantadora,

Os desprezou,

Somente amando

Sua ciência

Enganadora.

Só procurou

Brilhar, fulgir;

Nunca buscou,

Assim, cumprir

Sua missão.


Sempre espalhou,

Em profusão,

Suas ideias

Tristonhas, feias,

Do ateísmo

Desventurado.

Nunca estancou

Uma só lágrima;

Nunca pensou

Uma ferida,

Que brota nalma

Desiludida;

Não consolou

O que sofria.

De quem fugia

Sem compaixão!

Enfim, viveu

Só na Ciência,

Nessa existência

Que passa breve!…

O ingrato teve

Mil ocasiões

De praticar

Boas ações

E espalhar

O amor e a luz

Que o bom Jesus

Lhe concedera:

Mas, infeliz,

Jamais o quis.


Porém um dia,

A Parca fria,

A morte amara,

Cruel, avara

E dolorosa,

O arrebatara

Nessa escabrosa

Escura via,

E o conduziu

Para o Infinito,

Onde, num grito,

Ele acordou

Do seu letargo,

Do sono amargo

Em que viveu.


Ao descerrar

O negro véu

Do esquecimento,

Sentiu seus olhos

Enevoados,

Tristes abrolhos

No pensamento!

Olhou o abismo

Do pessimismo

Em que vivera,

Por onde sempre

Se comprazera.


Sentiu-se, então,

Abandonado,

Amargurado

Na aflição!

Somente, assim,

Dentro da dor,

Lembrou de Deus,

Do seu amor,

A implorar

Da luz dos Céus

Consolação!


Das profundezas

Do coração,

Íntima voz

Disse-lhe então:


«Ó mau discípulo,

Em quem eu pus

Todo o esplendor

Da minha luz,

Do meu amor!

Tu te perdeste

Por teu querer,

Pelo viver

Que demandaste.

Jamais soubeste

Te conduzir,

E assim cumprir

O teu dever.

Por isso, agora,

Minhalma chora

Ao ver que és

Mísero ser.

Tu renegaste

E desprezaste

A inspiração

Do Deus de Amor!

Tua missão

Que era amar

E assim curar

A alheia dor,

Em luz perdida,

Foi convertida

Em fero braço

Esmagador.

O grande amor

— Fraternidade,

Que então devias,

Entre alegrias,

Oferecer

À Humanidade,

O abafaste

Como se fosse

Assaz mesquinho,

Quando só ele

É o caminho

Que nos conduz

À salvação,

À perfeição,

À região

Da pura luz!


Sempre esqueceste

Os teus deveres.

Dos próprios seres

Que te adoravam,

Que mais te amavam,

Foste inimigo,

E até negaste

A existência

Da própria alma,

A consciência!

Constantemente,

Continuamente

Foste um ingrato

E eu te julgara

Um lutador

Intimorato!…»


Calou-se a voz

E o pranto atroz

Jorrou, então,

Do coração

Do miserável,

Ser execrável

Que não soubera

E nem quisera

Compreender

O seu dever.

Entre lamentos

E dissabores,

Padecimentos,

Frios horrores,

Ele chorou

E lamentou,

Por muitos anos,

Seus desenganos

Na senda triste,

Fatal, amara,

Que assim trilhara

Na perdição.

Envergonhado,

Espezinhado

Na sua queda,

Correu sozinho

O mundo inteiro,

Qual caminheiro

A quem negassem

Um só carinho.

Perambulou

Qual Aasvero,

Sofreu, clamou,

Supliciado;

E, muitas vezes,

O seu olhar,

Amargurado,

Triste pousou

Sobre o lugar

Onde pecou.

A pobre mão

Sempre estendeu

Pedindo o pão,

Pedindo luz,

A lamentar

A sua cruz!

Jamais alguém

Quis escutá-lo;

O mesmo bem

Que ele fizera,

Assim lhe era

Retribuído…

E o pobre Espírito

Desiludido,

Desanimado,

Desamparado,

Só encontrava

Consolação

Nas lágrimas tristes

Que derramava

Em profusão.


Até que um dia

Em que sofria,

Mais padecia

A dor feroz,

Cruel e atroz,

A alma triste

E solitária,

Exp’rimentada,

Extenuada

No atro sofrer,

Cheia de unção

Por entre prantos,

Formosos, santos,

Disse ao Senhor

Numa oração:


«Ó Mestre Amado,

Sei que hei pecado

E transgredido

As tuas leis,

Tendo comigo

A tua luz,

Ó bom Jesus!

E mesmo assim,

Eu me perdi

Por meu querer,

Pois não cumpri

O meu dever!..

Fui a grilheta

Da impiedade,

Pobre calceta

Da iniquidade.

Mas tu que és bom,

Tão justo e santo,

Sabes do pranto

Das minhas dores,

No meu viver

Sem luz, sem flores,

E hás-de acolher

Minha oração

Cheia de fé!…

Dá-me o acúleo

Da expiação,

Para que seja

Exterminado

O meu orgulho.

Oh! dá-me agora

A nova aurora

De uma existência

De provação.

Quero sofrer

Dura pobreza,

Sempre viver

Na singeleza.

O meu desejo

É só voltar

À Terra impura

Onde eu pequei,

Para ofertar

À criatura

O grande amor

Que lhe neguei.

Não quero ter

Nem um só dia

Dessa alegria

Que desfrutei,

Mas só trazer

No coração

Todo o amargor

Da privação.

Não quero ver

O dealbar

De uma esperança;

O próprio lar,

Onde se encontra

Maior ventura,

Não quero ter;

Nunca, jamais,

Hei conhecer

O que é sorrir!

Quero existir

Desconhecido,

Incompreendido

Em minha dor;

Então serei

Ramo perdido,

Árido e seco

Pelo vergel

Enflorescido.

Conhecerei

A dor cruel

Que nos retalha

O coração.

Nessa batalha

Que empreenderei,

Quero ganhar

E conquistar

A luz, o pão,

O agasalho,

Com meu trabalho.

Eu só almejo

Compreensão

Para mostrar

O teu perdão,

Claro e sublime

Para o meu crime,

Ó bom Jesus,

Ó Mestre Amado! —

Eu lutarei

E chorarei

Nas rijas dores

Mais inclementes,

Nos turbilhões

Incandescentes

Das amarguras,

Cruéis e duras

Das aflições.

Agora eu vejo

Que na existência

A grã ciência

Só é grandiosa,

Só é formosa,

Quando aliada

Da caridade,

O puro amor.

Quero com ardor

Bem conquistar

A perfeição!

Serei, portanto,

Neste planeta,

Como a violeta

Sob a folhagem…

Viver somente

Pela voragem

Das desventuras.

Quero sofrer

Com humildade,

E sempre ter

Em mim bondade,

Feliz dulçor

Da caridade!…»


E o Mestre Amado,

Compadecido

Do pobre Espírito

Dilacerado,

Enfim, perdido,

Deu-lhe o perdão,

A permissão

Para voltar

À antiga arena —

Luta terrena,

Oferecendo-lhe

Ocasião

Para tornar-se

Mais venturoso

E sempre digno

Do seu perdão.


Seja bendito,

Pelo infinito

Desenrolar

E perpassar

De toda a idade,

O bom Jesus,

Que, com sua luz

E terno amor,

Escuta a prece

De quem padece,

Fazendo assim

Desabrochar

O dealbar

Das alvoradas

Iluminadas

De muitas vidas,

Belas, queridas,

Para lutarmos

E nos tornarmos

Dignos do Amor

Inigualável,

Incomparável,

Do Criador!


NA ESTRADA DE DAMASCO


Num certo dia

A Ambição,

De parceria

Com o Orgulho,

Chamou o homem

Jactancioso,

Rude e cioso

Do seu poder

E vão saber,

E assim lhe disse:


«Homem, tu és

Senhor potente,

Grande e valente

Aqui no mundo;

E se quiseres

Tornar-te um rei

Da imensa grei

Da Criação,

É só viveres

A procurar

Mais dominar

Os elementos

A transudar

Nos sentimentos.

Maior coragem

Para ganhares

Sempre vantagem

No teu viver,

E conquistares

Sempre o poder

Dos triunfantes.

Aos semelhantes

Em vez de amá-los

Tais como irmãos,

Faze-os vassalos

No teu reinado,

Glorificado

De grão-senhor!»


E o pecador,

Ser imperfeito

Se achasse embora,

A seu agrado,

Bem satisfeito,

Foi sem demora

Então chamado

Por um juiz

De retidão,

Que é a Consciência,

Nesta existência

De provação,

Que então lhe diz:


«Mas, e o bom Deus

Que está nos Céus,

Que tudo vê,

Sabendo assim

Quanto a tua alma

Dele descrê?

Ele é o teu Pai,

O Criador,

O Deus de amor.

E o bom Jesus,

Nosso Senhor,

Mestre da luz,

O Filho amado

Que à Terra veio,

A este mundo

Ingrato e feio

A redimir,

E assim banir

O teu pecado?


Ele te amou

E te ensinou

Que ao teu irmão

Tu deves dar,

Nunca negar

A tua mão;

E espalhar

Somente amor,

A relegar

Toda a maldade,

Para que um dia

Te fosse dado

Reconhecer.

Com alegria,


O solo amado

Do eldorado

Dos belos sonhos,

Lindos, risonhos,

Do teu viver.

Assim, procura

Melhor ventura

Em só buscar,

Acompanhar,

Seguir Jesus

Em sua dor,

Em seu amor,

Em sua cruz!»


Mas, o tal homem

Tão orgulhoso,

Que já se achava

Bem poderoso,

Achou estranho

Esse conselho:

Rigor tamanho

Não poderia;

Isso seria

Obedecer

E se humilhar;

E ele havia

Aqui nascido

Só para ser

Obedecido,

Tendo o poder

Pra dominar.

Assim, buscou

E perguntou

Aos companheiros;


Eles, então,

Lhe responderam

No mais profundo

Do coração:


— «Esse conselho

É muito velho!

Deus é irrisão.

E o tal Jesus,

Com sua cruz

E seu calvário,

Somente foi

Um visionário.

Enquanto ele

Só te oferece

Amargas dores,

Desolações,

Tristes agruras,

Cruéis espinhos,

Nós concedemos

Ao teu valor

De grão-senhor

Sublimes flores,

Lindos brasões,

Grandes venturas

Nesses caminhos.


Quem mais souber

Gozar e rir,

Mais saberá

O que é existir.

A vida aqui

Só é formosa

Para quem goza;

E pois, assim,

Vale o gozar

Constantemente,

Pois vindo a Parca

Bem de repente,

Há-de levar

Esse teu sonho

De amar, sofrer,

Ao caos medonho

Do mais não-ser;

Porque a morte

Tão renegada,

Essa é apenas

O frio nada.

O louco amor

Do teu Jesus,

Exprime a dor

E não a luz.»


E assim, quando

O homem fraco

E miserando

Mais se exaltou

E se jatou,

Onipotente,

Chegou a Dor

Humildemente,

A lapidária,

A eterna obreira,

A mensageira

Da perfeição,

Nessa oficina

Grande e divina

Da Criação;

Fê-lo abatido

E desolado,

Até enojado

Do corpo seu:

Apodreceu

O seu tesouro.


E o homem-rei

Reconheceu

Que o paraíso

Dos sãos prazeres

Vive nas luzes

Só da virtude,

No cumprimento

Dos seus deveres,

Na humildade,

Na caridade,

Na mansuetude,

Na submissão

Do coração

Ao sofrimento,

Quando aprouver

Ao Deus de Amor

Oferecer

Rude amargor

Ao nosso ser.


Depois, então,

De mui sofrer

E padecer

Na expiação,

Reconheceu

A nulidade,

A fatuidade

Da vil matéria!


Na atroz miséria

Dessa agonia,

Só procurou

Buscar se via

Os seus mentores

Enganadores,

Altivos filhos

Da veleidade


Só encontrou

O juiz reto,

O Magistrado

Incorrutível

Da consciência,

E que, num brado

Indescritível,

Em consequência,

Lhe fez com ardor

Ao coração

Ermo de afeto,

Ermo de amor,

A mais tremenda

Acusação!


É o que acontece

Em toda a idade,

Com a maioria

Da Humanidade;

Pois sempre esquece

Os seus deveres

E se submerge

Nos vãos prazeres.

Para a alegria

Fatal converge

O seu viver,

Para o enganoso,

Efêmero gozo

Do material,

A esquecer

Tudo o que seja

Espiritual.

Feliz de quem

Aí procura

Maior ventura

No sumo bem;

Porque verá,

Contemplará


Todo o esplendor,

A eterna luz,

Do eterno amor

Do bom Jesus.


PARNASO DE ALÉM-TÚMULO


Além do túmulo o Espírito inda canta

Seus ideais de paz, de amor e luz,

No ditoso país onde Jesus

Impera com bondade sacrossanta.


Nessas mansões, a lira se levanta

Glorificando o Amor que em Deus transluz,

Para o Bem exalçar, que nos conduz

À divina alegria, pura e santa.


Dessa Castália eterna da Harmonia

Transborda a luz excelsa da Poesia,

Que a Terra toda inunda de esplendor.


Hinos das esperanças espargidos

Sobre os homens, tornando-os mais unidos,

Na ascensão para o Belo e para o Amor.


ANGÚSTIA MATERNA


«Ó Lua branca, suave e triste,

- A Mãe pedia, fitando o céu -

Dize-me, Lua, se acaso viste

Nos firmamentos o filho meu.


A Morte ingrata, fria e impiedosa,

Deixou vazio meu doce lar,

Deixou minhalma triste e chorosa,

Roubou-me o sonho - deu-me o penar


Se tu soubesses, Lua serena,

Como era grácil, que encantador

Meu anjo belo como a açucena,

Cheio de vida, cheio de amor!… »


Disse-lhe a Lua — «Eu sei do encanto

Dum filho amado que a gente tem;

E das ausências conheço o pranto,

Oh! se o conheço, conheço-o bem!…»


- «Então, responde-me sem demora,

Continuava, sempre a chorar:

Em qual estrela cheia de aurora.

Foi o meu anjo se agasalhar?…»


- «Mas não o avistas — responde-lhe ela —

Naquela estrela que tremeluz?

Abre teus olhos… É bem aquela

Que anda cantando no céu de luz.»


E a Mãe aflita, martirizada,

Fitou a estrela que lhe sorriu,

Sentiu-lhe os raios, extasiada,

E dos seus cantos, feliz, ouviu:


- «Ilha pacífica, da esperança,

Sou eu no mar do éter infindo;

Do sofrimento mato a lembrança

E abro o futuro, ditoso e lindo.


Do Senhor tenho doce trabalho,

Missão que é toda só de alegrias:

Flores reparto cheias de orvalho,

Flores que afastam as agonias.»


- «Quase te odeio, luz de alvorada,

Ó linda estrela que adorna o céu,

Gritou-lhe a pobre desconsolada,

Porque tu guardas o filho meu.»


- «Se tu me odeias, se me detestas,

Contudo eu te amo e pergunto: quem

Não tem saudades das minhas festas?

O teu anjinho teve-as também.


Em mim a noite não tem guarida,

Aqui terminam os dissabores;

Aqui em tudo floresce a vida,

Vida risonha, cheia de flores!…»


A mãe saudosa, banhada em pranto,

Notou de logo seu filho lindo,

Todo vestido dum brilho santo,

Num belo raio de luz, sorrindo…


Disse-lhe o filho - «Tive deveras

Muita saudade, mãezinha amada,

Senti a falta das primaveras,

Senti a falta desta alvorada!…


Não resisti… Tanta era a saudade!

Voltei do exílio, fugi da dor,

Aqui é tudo felicidade,

Paz e ventura, carícia e amor!


Ó mãe, perdoa, se mais não pude

Ficar contigo na escuridão,

A Terra amarga, tristonha e rude,

Envenenava meu coração.


Aqui, na estrela, também há fontes,

Jardins e luzes e fantasias,

Sóis rebrilhando nos horizontes,

Sonhos, castelos e melodias.


Daqui te vejo, daqui eu velo

Pelo sossego dos dias teus;

Faço-te um ninho ditoso e belo,

Muito pertinho do amor de Deus!…»


Aí os olhos da desditosa

Nada mais viram do Eterno Lar.

Viu-se mais calma, menos saudosa,

E, estranhamente, pôs-se a chorar…


Minha mãezinha, alguém me disse,

Que tu te foste, triste sem mim;

Já não me embala tua meiguice,

E não podias partir assim.


Eu acredito que tenhas ido

Pedir a Deus, que possui a luz,

Que de mim faça, do teu querido,

Um dos seus anjos, outro Jesus.


Mas tanto tempo faz que partiste,

Que me fugiste sem me levar,

Que sofro e choro, saudoso e triste,

Sem esperanças de te encontrar.


Há quantos dias que te procuro,

Que te procuro chamando em vão!…

Tudo é silêncio tristonho e escuro,

Tudo é saudade no coração.


Outros meninos alegres vejo,

Numa alegria terna e louçã,

Que exclamam rindo dentro dum beijo:

«Como eu te adoro, minha mamã!»


Sinto um anseio sublime e santo,

De nos meus braços, mãe, te beijar;

E abraço o espaço, beijo o meu pranto,

Somente a mágoa vem-me afagar.


Inquiro o vento: — «Quando verei

Minha mãezinha boa e querida?»

E o vento triste diz-me: — «Não sei!…

Só noutra vida, só noutra vida!…»


Pergunto à fonte, pergunto à ave,

Quando regressas dos Céus supremos,

E me respondem em voz suave:

«Nós não sabemos! nós não sabemos!…»


Pergunto à flor que engalana a aurora,

Quando é que voltas desse país,

E ela retruca, consoladora:

«Depois da morte serás feliz.»


E digo ao sino na tarde calma:

«Onde está ela, meu doce bem?»

Ele responde, grave, à minhalma:

«Além na luz! Na luz do Além!…»


O mar e a noite me crucificam,

Multiplicando meus pobres ais,

Cheios de angústias, ambos replicam:

«Tua mãezinha não volta mais.»


Somente a nuvem, quando eu imploro,

Diz-me que vens e diz que te vê;

E me conforta, do céu, se eu choro:

«Eu vou chamá-la para você.»


Sempre te espero, mas, ai! não voltas,

Nem para dar-me consolação;

Ó mãe querida, que mágoas soltas

Andam cortando meu coração.


Tanta saudade, e, no entretanto,

Vejo-te linda nos sonhos meus;

Ajoelhada, banhada em pranto.

E de mãos postas aos pés de Deus.


Sempre a meus olhos, estás bonita

Qual uma rosa, como um jasmim!

Porém conheço que estás aflita,

Com o pensamento junto de mim.


Então, entrego-me ao meu desejo,

Tremo de anseio, calo, sorrio,

Sentindo o anélito do teu beijo…

Mas abro os olhos no ar vazio!


Vai-se-me o sonho… Quanta amargura,

Que sinto esparsa pelo caminho!

Que mágoa eterna! que desventura,

Para quem segue triste e sozinho.


Volta depressa! guardo-te flores,

Porque só vivo pensando em ti:

Celebraremos nossos amores,

Junto da fonte que canta e ri.


Já não suporto tantos cansaços!…

Se não voltares, pede a Jesus

Que te conceda pôr-me em teus braços,

Foge comigo para outra luz!…


O LEPROSO

Dizia o pobre leproso:

Senhor! Não tenho mais vida,

Sou uma pútrida ferida

Sobre o mundo desditoso!


Mas o anjo da esperança

Responde-lhe com brandura:

Meu filho, espera a ventura

Com fé, com perseverança.


Se teu corpo é lama e pus

Em meio dos sofrimentos.

Tua alma é réstia de luz

Dos eternos firmamentos.


BONDADE

Vê-se a miséria desditosa

Perambulando numa praça,

Sob o seu manto de desgraça

Clama o infortúnio abrasador.


Eis que a Fortuna se lhe esconde;

E passa o gozo, muito ao largo;

E ela chora, ao gosto amargo,

O seu destino, a sua dor.


Mas eis que alguém a reconforta:

É a Bondade. Abre-lhe a porta;

E a fada, à luz dessa manhã,


Diz-lhe, a sorrir: — Tens frio e fome?

Pouco te importe qual meu nome,

Chega-te a mim: sou tua irmã.


ORAÇÃO

A Ti, Senhor,

Meu coração

Imerso em dor

Aflito vem,


Pedindo a luz,

Pedindo o bem

E a salvação.


Pedir a quem,

Senão a Ti,

Cuja bondade

Me sorri

E me conduz

À imensidade

Da perfeição?


És a piedade

Divina e pura

Que à criatura

Dá luz e pão.


Sou eu, somente,

O impenitente

Na expiação.


Em Ti, portanto,

Confio e espero,

De Ti eu quero

Me aproximar!


Consolo santo,

Para o meu pranto

Venho implorar.


Bem sei, Senhor,

Se sofro e choro.

Se me demoro

No padecer,

É porque andei

Longe do Amor,

No meu viver.


O Amor é a lei,

Que me ensinaste

E que deixaste

Aos irmãos teus!


Pra que eu pudesse,

Ditosamente,

Buscar os Céus.


Assim, contente,

Cheio de unção,

Elevo a prece

Do coração,

A Ti, Senhor,

Rogando amor,

Paz e perdão!


A FORTUNA

Anda a Fortuna por uma praça,

Fala à Ventura com riso irmão,

E mais adiante topa a Desgraça,

E altiva e rude lhe esconde a mão.


Vaidosa e bela, dá preferência

Ao torpe egoísmo acomodatício,

E entre as virtudes, na existência,

Escolhe sempre flores do vício.


E assim prossegue na desmarcada

Carreira louca do vão prazer,

Como perdida, e já sepultada,

No esquecimento do próprio ser.


Depois, cansada e já comovida,

Quando só pede luz e amor,

Acorre a Morte por dar-lhe a Vida,

E vem a Vida por dar-lhe a Dor.


ORAÇÃO [II]

Vós que sois a mãe bondosa

De todos os desvalidos

Deste vale de gemidos

Mãe piedosa!…


Sublime estrela que brilha

No céu da paz, da bonança,

Do céu de toda a esperança —

Maravilha!


Maria! — consolação

Dos pobres, dos desgraçados,

Dos corações desolados

Na aflição,


Compadecei-vos, Senhora,

De tão grandes sofrimentos,

Deste mundo de tormentos,

Que apavora.


Livrai-nos do abismo tredo

Dos males, dos amargores,

Protegei os pecadores

No degredo.


Estendei o vosso manto

De bondade e de ternura,

Sobre tanta desventura,

Tanto pranto!


Concedei-nos vosso amor,

A vossa misericórdia,

Dai paz a toda discórdia

Trégua à dor!…


Vós que sois Mãe carinhosa

Dos fracos, dos oprimidos

Deste vale de gemidos,

Mãe bondosa!


Oração:


Pai de Amor e Caridade,

Que sois a terna clemência

E de todas as criaturas

Carinhosa Providência!

Que os homens todos vos amem,

Que vos possam compreender,

Pois tendo ouvidos não ouvem,

E vendo não querem ver. (Mt 13:14)


ALÉM

Além da sepultura, a nova aurora

Luminosa e divina se levanta;

Lá palpita a beleza onde a alma canta,

À luz do amor que vibra e revigora.


Ó corações que a lágrima devora,

Prisioneiros da dor que fere e espanta,

Tende na vossa fé a bíblia santa,

E em vossa luta o bem de cada hora.


Além da morte, a vida tumultua,

O trabalho divino continua…

Vida e morte — exultai ao bendizê-las!


Esperai nos tormentos mais profundos,

Que a este mundo sucedem-se outros mundos,

E às estrelas sucedem-se as estrelas!


SONETO [VI]

Como outrora, entre ovelhas desgarradas,

O coração tocado de agonias,

O Mestre chora como Jeremias.

Vendo o mundo nas lutas condenadas.


Sempre a miséria e a dor nos vossos dias!

Sempre a treva nas míseras estradas…

Preces infindas e desesperadas,

Do caminho de lágrimas sombrias…


Dois milênios contando o grande ensino

Do Amor, o luminoso bem divino,

Sobre as desolações do mundo velho…


Mas, em todos os tempos é a vaidade

No egoísmo da triste Humanidade,

Demorando as vitórias do Evangelho.


A PRECE

O Senhor da Verdade e da Clemência

Concedeu-nos a fonte cristalina

Da prece, água do amor, pura e divina,

Que suaviza os rigores da existência.


Toda oração é a doce quintessência

Da esperança ditosa e peregrina,

Filha da crença que nos ilumina

Os mais tristes refolhos da consciência.


Feliz o coração que espera e ora,

Sabendo contemplar a eterna aurora

Do Além, pela oração profunda e imensa.


Enquanto o mundo anseia, estranho e aflito,

A prece alcança as bênçãos do Infinito,

Nos caminhos translúcidos da Crença.


FRATERNIDADE

Fraternidade é árvore bendita,

Cujas flores e ramos de esperança

Buscam a luz eterna que se agita,

Rumo ao país ditoso da bonança.


É a fonte cristalina em que descansa

A alma humana fraca, errante e aflita;

É a luminosa bem-aventurança

Da mensagem de Deus, pura e infinita!…


Vós que chorais ao coro das procelas,

Vinde, irmãos! Desdobrai as vossas velas!…

Não vos sufoque o horror da tempestade.


Fraternidade é o derradeiro porto,

A terra da união e do conforto,

Que habitaremos na 1mortalidade.


LEMBRAI A CHAMA

Vós que buscais além da sepultura

A resposta de luz da Eternidade,

Nunca olvideis a Excelsa Claridade,

Que reside convosco em noite escura.


Somos todos a Grande Humanidade,

Em direção à Fonte Eterna e Pura,

Somos em toda parte a criatura

Buscando os dons supremos da Verdade.


Tendes convosco a Chama Adormecida…

Rogamos acendais a Luz da Vida,

Já que buscais mais crença junto a nós!


Se quiserdes brilhar nos Outros Planos,

Ó torturados corações humanos,

Deixai que o Cristo nasça dentro em vós.


ETERNA MENSAGEM

Ainda e sempre o Evangelho do Senhor

É a mensagem eterna da Verdade,

Senda de paz e de felicidade,

Na luz das luzes do Consolador.


Nos caminhos da lágrima e da dor,

Ante os desfiladeiros da impiedade,

Não sabe o coração da Humanidade

Beber dessa água límpida do Amor.


Mas os túmulos falam pela estrada,

Em toda parte fulge uma alvorada

Que ao roteiro dos Céus nos reconduz;


O Evangelho, na luz do Espiritismo,

É a escada de Jacob vencendo o abismo,

Trazendo ao mundo o verbo de Jesus.


NO TEMPLO DA EDUCAÇÃO

Distribuía o Mestre os dons divinos

Da luz do seu Espírito sem jaça,

E exclama, enquanto a turba observa e passa:

— «Deixai virem a mim os pequeninos!…»


É que na alma sincera dos meninos

Há uma luz de ternura, amor e graça,

De que o Senhor da Paz quer que se faça

O sol da nova estrada dos destinos.


Vós, que tendes a fé que ama e consola,

Fazei do vosso lar a grande escola

De justiça, de amor e de humildade!


As conquistas morais são toda a glória

Que a alma busca na vida transitória,

Pelos caminhos da imortalidade.


NA NOITE DE NATAL

— «Minha mãe, porque Jesus,

Cheio de amor e grandeza,

Preferiu nascer no mundo

Nos caminhos da pobreza?


Porque não veio até nós,

Entre flores e alegrias,

Num berço todo enfeitado

De sedas e pedrarias?»


— «Acredito meu filhinho,

Que o Mestre da Caridade

Mostrou, em tudo e por tudo,

A luminosa humildade!…


Às vezes, penso também.

Nos trabalhos deste mundo,

Que a Manjedoura revela

Ensino bem mais profundo!»


E a pobre mãe de olhos fixos

Na luz do céu que sorria,

Concluiu com sentimento,

Em terna melancolia:


— «Por certo, Jesus ficou

Nas palhas, sem proteção,

Por não lhe abrirmos na Terra

As portas do coração.»




Esta mensagem psicografada em 19/5/1942, foi publicada originalmente em 1972 pela LAKE e é a 2ª do livro “”