Parnaso de além-túmulo

Capítulo XLII

Lucindo Filho



Nascido em Minas Gerais a 16 de Agosto de 1847 e falecido em Vassouras a 1.° de Junho de 1896. Médico, jornalista, compositor musicista e tradutor renomado. Latinista de prol, conta em sua bibliografia Poemetos 5irgilianas, Flores Exóticas, etc.


SEM SOMBRAS

Junto ao sepulcro onde a saudade chora

E onde o sonho das lágrimas termina,

Abre-se a porta da mansão divina

Entalhada em reflexos de aurora.


Não mais a noite; vive em tudo, agora,

A beleza profunda e peregrina,

Envolvida na luz esmeraldina

Da esperança que vibra e resplendora.


Sem as sombras das lutas desumanas,

A alma vitoriosa entoa hosanas,

Ébria de paz e de imortalidade.


Não lamenteis quem parta ao fim do dia,

Que a sepultura em cinza escura e fria

É a nova porta para a Eternidade.




Sem sombras — Esta produção surgiu de improviso no curso de uma reunião familiar em que se não cogitava de assuntos espíritas. O poeta desencarnou no século passado e o médium é deste século; e conquanto fosse intelectual de prol, a seu tempo, é hoje um nome esquecido, fora dos meios culturais. Ninguém ali o conhecera nem dele se lembraria exceto uma senhora que, em menina, lhe assistira aos funerais, em Vassouras, onde ele tem precioso jazigo.