Nasceu Bernardino da Costa Lopes em Boa Esperança, município de Rio Bonito, no Estado do Rio, a 19 de Janeiro de 1859, falecendo em 1916, no Rio de Janeiro, quando funcionário do Correio Geral. Notabilizou-se no gênero descritivo, ficando célebre com o seu livro «Cromos» (1881).
MIRAGENS CELESTES
 I
Sublimes atmosferas.
Luminosas, rarefeitas,
Sem as medidas estreitas
Das horas que marcam eras.
E as almas puras, eleitas,
Quais flores das primaveras,
Buscando vão as esferas
Das alegrias perfeitas.
Vão todas, espaço em fora,
Como lírios cor da aurora,
Modeladas pela dor.
E onde passam sorridentes
Abrem-se rosas virentes,
Rosas de paz e de amor.
II
Uma campina de flores
Em pleno espaço infinito,
Onde desperta um precito
De um pesadelo de dores.
Envergara o sambenito
Dos pedintes sofredores,
Vivera entre os amargores
De um sofrimento bendito.
E nessa etérea campina
Recebe a esmola divina,
Nesse batismo de luz;
Recebendo entre outros gozos,
Dos lábios de anjos formosos,
O ósculo de Jesus. |
CROMOS
I

Na alcova desguarnecida,
Sobre uma enxerga, a doente
Soluça como quem sente
O fim nevoento da vida.
Beija-lhe a filha inocente,
Minúscula, embevecida,
Mirando-a enternecida,
Dizendo-lhe docemente: —
«Não chores mais mamãezinha:
Vou dar minha bonequinha
À santa lá do altar;
E com esta minha promessa,
Ela há-de vir bem depressa
Para a senhora sarar.»
II
O mendigo desprezado
Olha as estrelas e chora,
Pois sente que se enamora
Do firmamento estrelado.
Ao seu Jesus bem-amado,
Cheio de lágrimas, ora,
E pede, suplica, implora
Perdão para o seu pecado.
Veem-se raios formosos.
Dimanando luminosos,
Do clarão da sua fé;
E lá dos céus abençoa
Sua alma singela e boa,
O Jesus que ele não vê. |
B. Lopes