Parnaso de além-túmulo

Capítulo XXVII

Edmundo Xavier de Barros



Edmundo Xavier de Barros, filho de Pacífico Antônio Xavier de Barros, nascido em 1861, no Estado de Goiás. Desencarnou no Distrito Federal, como capitão da arma de Cavalaria, em 17 de Janeiro de 1905. Foi poeta e desenhista notável.


VIDA

Nem a paz, nem o fim! A vida, a vida apenas

É tudo que encontrei e é tudo que me espera!

O ouro, a fama, o prazer e as ilusões terrenas

São lodo, fumo e cinza ao fundo da cratera.


Esvaiu-se a vaidade! Os júbilos e as penas,

A alegria que exalta e a dor que regenera,

Em cenário diverso aprimorando as cenas,

Continuam, porém, vibrando noutra esfera.


Morte, desvenda à Terra os planos que descobres,

Fala de tua luz aos mais vis e aos mais nobres,

Renova o coração do mundo impenitente!


Dize aos homens sem Deus, nos círculos escuros,

Que além do gelo atroz que te reveste os muros,

Há vida… sempre a vida… a vida eternamente…


DIANTE DA TERRA

Fugindo embora à paz de eternos dons divinos,

Sem furtar-se, porém, à luta que aprimora,

O homem é o semeador dos seus próprios destinos,

Ave triste da noite, esquivando-se à aurora…


Em derredor da Terra, estrelas cantam hinos,

Glorificando a luz onde a Verdade mora,

Mas no plano da carne os impulsos tigrinos

Fazem a ostentação da miséria que chora!


Necessário vencer nos vórtices medonhos,

Santificar a dor, as lágrimas e os sonhos,

Do inferno atravessar o abismo ígneo e fundo,


Para ver a extensão da noite estranha e densa,

Que os servos da maldade e os filhos da descrença

Estenderam, sem Deus, sobre a fronte do mundo!…




Os sonetos “Vida” e “Diante da Terra” foram também publicados pelo IDE e são respectivamente a e a lições do livro “Auta de Souza”