Refúgio

Capítulo XV

Oração e dificuldade



Diariamente, milhares de criaturas partem da Terra.

Quase sempre, reconfortadas pelo bálsamo da fé consoladora que abraçaram na vida humana, desvencilham-se da teia fisiológica, sustentadas por sublime esperança.

A maioria, no entanto, não desfruta de improviso os talentos da paz que desejaria surpreender além do sepulcro, porque a percentagem de Céu para cada alma expressa a quantidade de Céu que haja edificado em si mesma.

É que, na maioria das circunstâncias, os desencarnados carreiam consigo as nuvens de trevas que lhes pesam na consciência.

Sombras de remorso, de frustração, de arrependimento tardio, gerando o plano purgatorial em que estagiam penosamente.

Desolados e aflitos, suplicam a graça do recomeço, o regresso ao campo do mundo, o retorno à lição no corpo…

Responsáveis, muitas vezes, por crimes ocultos, imploram a reaproximação com antigos adversários para ressarcirem o débito a que ainda se empenham; empreiteiros da calúnia e da crueldade rogam moléstias soezes, com que resgatam a deplorável conduta em que se desvairaram na delinquência…

Por isso mesmo, todos os dias aparecem berços de sofrimento e de provação, em que os culpados de ontem, hoje possuem o ensejo valioso de purificar e reaprender.

Não há, desse modo, dificuldades inúteis, como não existem chagas e dores sem a significação que lhes corresponda.

Todos os nossos sentimentos plasmam ideias.

Todas as nossas ideias estabelecem atos e fatos que nos definem o espírito na senda cotidiana.

Arquitetos do próprio destino, recolhemos nas leiras do espaço e do tempo, a alegria ou a flagelação, a felicidade ou o infortúnio, conforme o nosso plantio de mal ou bem.

Estejamos em guarda contra o império de névoa mental que trazemos em nós, abençoando os obstáculos que nos impelem à justa libertação e não nos esqueçamos de que a prece, em qualquer roteiro religioso, se não pode retirar-nos do clima sombrio por nós mesmos criado, será sempre Divina Luz revelando-nos o caminho.