Refúgio

Capítulo XII

Um inimigo só



Quando a luz do conhecimento evangélico penetra o plano obscuro de nossa mente, estabelece-se a divisão, no mundo de nossa alma, entre o bem e o mal, entre a claridade e a sombra.

Compreendemos, então, que o nosso conceito de paz se modifica. (Jo 14:27) E, observamos, espantados, a paz do cofre recheado de ouro, que se transforma, com o tempo, em aflição da avareza;

do excessivo reconforto da carne que, não raro, se converte em moléstia infeliz;

da alegria da herança amoedada que, frequentemente, desaparece em amarga tortura mental;

do contentamento da posse efêmera que, pouco a pouco, dá lugar a lamentável escravidão do espírito;

da mentirosa segurança do poder humano que, cedo, se mergulha na pesada corrente do desencanto…


Chegamos, desta forma, a entender que a paz fictícia da morte moral acompanha sempre os iníquos e os perversos, os maus aparentemente triunfantes e os enganados de todos os matizes que despertam, invariavelmente, nos espinheiros da dor e da desesperação.

Por isso mesmo, a revelação do Evangelho em nós, na profunda intimidade de nossa alma, é guerra — luta imensa — que nos compele ao aprimoramento incessante e se nos vemos, realmente, muitas vezes, separados de nossos familiares e de nossos laços mais queridos ao coração, segundo o ensinamento da Boa Nova, (Lc 12:49) somos obrigados a reconhecer que nesse combate sem sangue do nosso campo interior, somente possuímos um grande inimigo — o nosso próprio “eu” — separado da verdade divina, que precisamos reestruturar, nos moldes sublimes do nosso Divino Mestre, a golpes de sacrifício pessoal, a fim de que nos coloquemos ao encontro da grande fraternidade, para a vitória plena do amor em nosso espírito, em marcha sublime para a nossa destinação de filhos de Deus, na felicidade da Vida Imortal.