Reunião pública de 4 de Maio de 1959
de “O Livro dos Espíritos”
Corrosivo no coração, a surgir do conúbio entre a revolta e o desânimo, tisna o manancial da emotividade e sobe à cabeça em forma de nuvem. E, chegado ao cérebro, transfigura o pensamento em plasma sutil de lodo, conturbando a visão que se envolve em clamoroso desequilíbrio.
A vítima, desse modo, não mais enxerga o bem que o Céu espalha em tudo, para ver simplesmente o mal que traz consigo, e imagina, apressada, espinheiros e pântanos onde há flores e bênçãos, mentalizando o crime onde brilha a virtude. Em funesto delírio, chega a lançar de si escárnio e vilipêndio à própria Natureza que revela a Bondade Infinita de Deus.
Mas o agente sombrio não descansa nos olhos, porque invade os ouvidos, procurando a maldade nas palavras do amor, e descendo, letal, para a zona da língua, converte a boca em fossa de azedia e amargura, concitando os ouvintes do império da sombra, como se pretendesse escurecer o Sol e enlutar as estrelas.
Desde então, julga achar em toda criatura expoente do vício, aceitando a suspeita em lugar da esperança e exaltando a mentira, com que faz de si mesma um campo deplorável de aspereza e loucura.
Paralisando as mãos na preguiça insensata, acusa o mundo e a vida, sem doar-lhes a menor expressão de auxílio e entendimento.
E atingindo o apogeu da demência cruel, acalenta, infeliz, o desejo da morte, com a qual se precipita à cova do suicídio, para sofrer, depois, a expiação tremenda do insulto à Lei Divina e da injúria a si mesma.
Guardai-vos, pois, assim, no clima luminoso do serviço constante, amando e perdoando, ajudando e aprendendo, porquanto esse veneno que corrói a alma humana, dela fazendo, enfim, triste charco de trevas, chama-se pessimismo.