Reunião pública de 17 de Agosto de 1959
de “O Livro dos Espíritos”
Há quem lamente a incapacidade dos amigos desencarnados para mais amplo concurso na solução dos enigmas que atormentam a vida moral na Terra.
Estudiosos inúmeros desejariam que os chamados mortos se utilizassem dos sensitivos comuns, quais instrumentos mecânicos, para espetaculares eventos, e reclamam deles a intervenção positiva no laboratório terrestre, para a cura de moléstias dificilmente reversíveis; a revelação de fórmulas milagrosas na matemática das finanças; a descoberta de forças ocultas da Natureza, e a materialização de estadistas ilustres, domiciliados no Além, para que, de manifesto, venham falar ao povo na praça pública.
Suponhamos, porém, que uma escola seja diariamente assaltada por teorias inoportunas, com desrespeito à autoridade do magistério, desconhecendo-se a necessidade particular da instrução em cada discípulo…
Imaginemos um tribunal, sistematicamente invadido por sugestões exóticas, que alarmem o ânimo da magistratura, ignorando-se o imperativo do exame especial de todos os processos alusivos à regeneração de cada delinquente em si mesmo…
Conjeturemos quanto à perturbação de um hospital, incessantemente acometido de indicações extemporâneas, que transcendam o quadro dos experimentos da Medicina, estranhando-se o impositivo do tratamento individual para cada enfermo..
Decerto que à produtividade sobreviria a frustração, tanto quanto à luz do serviço se oporia a sombra do caos.
É mais do que justo nos empenhemos todos no amparo ao aprendiz, no auxílio ao encarcerado e no socorro ao doente, mas, além disso, ninguém espere que os companheiros desencarnados interfiram na atividade humana, favorecendo a inconsequência ou a desordem.
Quando os mensageiros da espiritualidade enobrecida recebem a permissão necessária para contribuir no progresso do Globo, corporificam-se no berço, à feição dos homens vulgares, comungando-lhes as vicissitudes e as dores.
É assim que encontramos um Thomas Edison vendendo jornais para se manter, aos quinze anos de idade, atingindo a posição de um dos maiores gênios técnicos de todos os tempos e deixando nada menos de oitocentas invenções registradas, e um Louis Pasteur, filho pobre de um curtidor, que, sem ser médico, pode ser considerado como sendo o fundador da microbiologia, apesar do trabalho valioso de seus predecessores.
Lembremo-nos do Cristo, o Divino Mestre por excelência.
Ele que podia, como ninguém, influenciar ambientes e criaturas, surge, entre os homens, como qualquer criança necessitada de arrimo; vive, em sua época, ao modo de homem normal e, embora a luz e o amor lhe coroem a presença sublime, expira num lenho áspero, à maneira de qualquer condenado à morte, sem culpa.
Realmente, os Espíritos desencarnados não podem penetrar assuntos que a Humanidade ainda não pode compreender; entretanto, guarda a convicção de que te trazem eles a notícia mais importante de todas — a verdade de que a vida prossegue, além do sepulcro, e de que todos nós, desencarnados e encarnados, seja onde for, receberemos sempre de acordo com as nossas obras.