Reunião pública de 31 de Agosto de 1959
de “O Livro dos Espíritos”
Observando a hostilidade manifesta que vem sofrendo a Doutrina Espírita, desde a enunciação dos seus princípios com Allan Kardec, estudemos o motivo pelo qual teria sido Jesus condenado, na barra dos tribunais humanos.
Todos sabemos que o Cristo não foi vítima de assassínio vulgar.
Não obstante, sem razão foi preso, inquirido, processado, qualificado na posição de réu e condenado à morte pelo mais alto conselho da comunidade a que pertencia.
O libelo não permaneceu circunscrito ao âmbito religioso da nação israelita.
A sentença foi conduzida à ratificação do arbítrio romano, na pessoa de Pilatos, submetida à consideração da autoridade provincial, na presença de Ântipas, e, em seguida, exposta ao veredicto da multidão.
Dentre todos os poderes a que foi apresentado, não se tem notícia de voz alguma que se levantasse para defendê-lo.
Entretanto, qual teria sido a culpa do Mestre nos quadros do seu tempo?
Ter-se-ia incompatibilizado com os sacerdotes?
Declarava, ele mesmo, que não vinha destruir a Lei, mas sim dar-lhe cumprimento.
Afrontaria, acaso, os abastados do mundo?
Não possuía uma pedra em que repousar a cabeça.
Guerreara os políticos dominantes?
Ensinava o respeito à legalidade, proclamando que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Menoscabara, porventura, o prestígio dos médicos?
Valia-se apenas da oração e do magnetismo divino de que se fazia intérprete no socorro aos doentes.
Dilapidara o interesse dos comerciantes?
Em sua época, qual acontece ainda hoje, pratica a beneficência quem multiplique pães e peixes em favor dos famintos.
Insultara os filósofos e os pesquisadores do espírito, sequiosos de experiência?
Ele mesmo anunciou que todos conheceremos a verdade para que a verdade nos faça livres.
E, depois de crucificado, seus continuadores legítimos por muito tempo foram perseguidos, humilhados, espancados, martirizados e ridicularizados, apodrecendo nos cárceres, algemados a ferros, supliciados em gabinete de tortura, passados a fio de espada ou cedidos à sanha de feras sanguinárias nos espetáculos públicos.
E agora que a Doutrina Espírita lhe revive os ensinamentos, quantos lhe esposam o programa de educação e justiça, de libertação moral e fraternidade pura — já que a evolução do Direito, entre os homens, não mais permite se ergam cruzes e fogueiras para os que creem na Sabedoria e no Amor da Providência Divina — padecem calúnia e vilipêndio, sarcasmo e perseguição.
Isso, porém, acontece simplesmente porque a infração do Espiritismo, que reverencia a Religião, ilumina a Filosofia e venera a Ciência, tanto quanto o delito de Jesus e de seus genuínos seguidores, nos primeiros três séculos do Cristianismo apostólico, é o de combater o cativeiro da ignorância e o império do vício, a sombra da mentira e o domínio da opressão, ajudando a alma do povo a sentir e a raciocinar.