Religião dos espíritos

Capítulo XXXVIII

Perseguidos



Reunião pública de 29 de Maio de 1959

de “O Livro dos Espíritos”


Batido no ideal de bem fazer, desculpa e avança à frente.

Açoitado no coração, enxuga as lágrimas e segue adiante.

A indulgência é a vitória da vítima e o olvido de todo mal é a resposta do justo.

Acúleos despontam no corpo da haste verde, mas a rosa, em silêncio, floresce, triunfante, por cima deles, enviando perfume ao céu.

Sombras da noite envolvem a paisagem terrestre na escuridão do nadir; todavia, o Sol, sem palavras, expulsa as trevas, cada manhã, recuperando-a para a alegria da luz.

Lembra-te dos perseguidos sem causa, que se refugiaram na paz da consciência, em todas as épocas.

Sócrates bebe a cicuta que lhe impõem à boca; entretanto, ergue-se à culminância da filosofia.

Estêvão morre sob pedradas, abrindo caminho a três séculos de flagelação contra o Cristianismo nascente; contudo, faz-se o padrão do heroísmo e da resistência dos mártires que transformam o mundo.

Gutenberg é processado como devedor relapso, mas cria a imprensa, desfazendo o nevoeiro medieval.

Jan Hus é queimado vivo, mas imprime novos rumos à fé.

Colombo expira abandonado numa enxerga em Valladolid; no entanto, levanta-se, para sempre, na memória da América.

Galileu, preso e humilhado, desvenda ao homem nova contemplação do Universo.

Lutero, vilipendiado, ressuscita as letras do Evangelho.

Giordano Bruno, atravessando pavoroso suplício, traça mais altos rumos ao pensamento.

Lincoln tomba assassinado, mas extingue o cativeiro no clima de sua pátria.

Pasteur é ironizado pela maioria de seus contemporâneos; no entanto, renova os métodos da ciência e converte-se em benfeitor de todos os povos.

E, ainda ontem, Gandhi cai sob golpe homicida, mas consagra o princípio de não-violência.

Entre os perseguidores, contam-se os obsidiados, os intemperantes, os depravados, os infelizes, os caluniadores, os calculistas e os criminosos, que descem pelas torrentes do remorso para a necessária refundição mental nos alambiques do tempo, mas, entre os perseguidos sem razão, enumeram-se quase todos aqueles que lançam nova luz sobre as rotas da vida.

É por isso que Jesus, o Divino Governador da Terra, preferiu alinhar-se entre os escarnecidos e injuriados, aceitando a morte na cruz, de maneira a estender a glória do amor puro e a força do perdão, para que se aprimore a Humanidade inteira.