Reunião pública de 20 de Junho de 1960
de “O Livro dos Médiuns”
Imagina-te possuindo irmãos furtados do teu lar, quando pequeninos.
Arrebatados ao teu afeto, foram aprisionados e cresceram em regime de cativeiro, quais bois na canga, conduzindo a cabeça do arado ou sustentando a moenda.
Traficados como alimárias, erguiam-se com a aurora e suavam no eito, enquanto o dia tivesse luz.
Se doentes, tinham remédio nas próprias lágrimas.
Se chorosos, recebiam repetidas chicotadas para consolo.
Embora amassem profundamente os seus, eram constrangidos a contemplar, soluçando, as próprias esposas vendidas a mãos mercenárias e os tenros filhinhos entregues à lavagem amontoada no cocho.
Desejariam estudar, mas eram propositadamente arredados da escola.
E se mostrassem qualquer anseio de liberdade, eram postos a ferro e varados até à morte.
Imagina igualmente que esses irmãos menos felizes, criados distantes de teu carinho, se comunicassem do Plano Espiritual com as criaturas terrestres e fossem motivo de hilaridade pela linguagem primitivista em que ainda se expressam.
Pensa neles como estando ainda algemados aos caprichos daqueles mesmos que lhes deviam respeito e renovação, e que continuam a tê-los como cães amestrados para objetivos inferiores.
Explorados em seus bons sentimentos, em regressando ao mundo onde foram supliciados na confiança ingênua, são mantidos, em Espírito, como vítimas e jograis.
Imagina tudo isso e sentirás o coração confranger-se de imensa dor, ao ver companheiros desencarnados iludidos na boa-fé.
Longe de explorá-los com perguntas indiscretas e ordenações deprimentes, saberás ajudá-los pela bênção do amor.
E entenderás, então, que, se todos endereçamos aos instrutores da Vida Maior petitórios constantes de socorro e de paciência, cada um deles também, diante de nós, exibe no coração as quatro palavras de nossa velha súplica:
— “Tem dó de mim!”