Ao tempo de Jesus, o Templo de Salomão era uma das mais belas construções existentes, em plena magnificência.
Erguido, inicialmente por Salomão, de quem herdou o nome mais tarde, substituído por Jerusalém, pela sua localização, foi construído com requintes de luxo, desde as madeiras preciosas até os mármores que deslumbravam.
Erigido no século X a. C., foi destruído pelos caldeus mais tarde, em 583 a. C., deixando desolados os hebreus.
Novamente levantado pelos judeus, que vieram do exílio da Babilônia, foi terminado por Zorbatel, em 516 a. C., que o ornamentou com ouro e colunas deslumbrantes, enquanto governador da Judeia.
Por fim, foi reedificado e embelezado por Herodes, que o dotou de máxima glória como edificação arquitetônica incomum, entre as anos
Somente no ano 64 d. C., seria concluído, para ser novamente destruído, logo depois, por Tito, que assim humilhou o povo judeu, reduzindo-o à posição de galé e impondo a Diáspora. . .
Era, no entanto, a glória do povo eleito. Ali se decidiam as questões relevantes da fé, da política e da economia do país.
O Sumo-sacerdote era autoridade de destaque na comunidade, respeitado e orgulhoso, exercendo poderes religiosos, sociais e administrativos quase absolutos.
Vez por outra Jesus entrou nele durante Seu Ministério.
Aproximavam-se os momentos decisivos. A onda de intriga avolumava-se e os espiões de vários matizes buscavam surpreendê-lo em falta real ou imaginária para O denunciarem.
Os Seus passos eram seguidos à socapa e Suas palavras eram adulteradas, de modo a atenderem aos fins escusos dos Seus futuros verdugos.
Ele permanecia, no entanto, impertérrito.
A Verdade nEle era tão natural, que não a podiam dissociar da Sua vida.
Todos os acontecimentos sucediam-se com inteireza, sem interrupção.
À semelhança do Dia nos seus vários ciclos de amanhecer, plenitude e crepúsculo, Ele se encontrava no píncaro da realização, preparando-se para iniciar o período de sombras-luz, nas grandes dores e tribulações.
Ninguém passa pelo mundo físico sem experimentar os ferretes da condição de inferioridade do planeta, assim como daqueles que o habitam.
A aflição é fenômeno comum a todos e ninguém se lhe exime à presença.
Os amigos encontravam-se jubilosos por estarem em Jerusalém.
A cidade santa constituía orgulho para todas as raças e viver nela era honra imerecida;
passar pelas suas venerandas ruas significava estar perto da Divindade, pois que ali estavam o Templo e a Arca da Aliança. . .
Jesus não se fascinava. Aos outros Ele deslumbrava. Superior à Sua época e a todas as eras, vestira-se com a singeleza da humildade, a fim de erguer os homens ao cintilar das estrelas.
—Senhor. . . vede que pedras e que construções Referiam-se aos imensos blocos de diversas toneladas que constituíam a edificação opulenta.
—Vede essas grandiosas construções?
Em verdade, em verdade vos digo, que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
O espanto se manifestou nos companheiros, que se sentiram desapontados, agoniados.
—Diz-nos quando tudo isso acontecerá e qual o sinal a anunciar que essas coisas estão próximas.
Adentrando-se no futuro e aquilatando a pusilanimidade humana, os desalinhos morais, as ambições desregradas e as paixões sanguessudentas, com o tom melancólico o Mestre enunciou o Sermão profético, apocalíptico.
Ante Sua visão transcendente, desfilavam os acontecimentos histórico que assinalariam as épocas do futuro.
O Tempo, depois de destruído, passaria a sofrer diversos assaltos até 150, quando os judeus foram proibidos de entrar em Jerusalém, dali expulsos em definitivo.
Tito os houvera crucificado ao milhares em 70, e mandou sitiar a fortaleza de Massada, por dois anos, até a sua rendição total, face ao suicídio geral dos mais ortodoxos e zelotas que para lá fugiram após a destruição de Jerusalém.
O Mestre via, naquele momento, o nascer, florescer e morrer de civilizações e culturas diversas, que as guerras e os tempos consumiriam. . .
Sou eu. - E seduzirão a muitos. Quando ouvirdes falar de guerras e de rumores de guerras, não vos alarmeis; é preciso que isso aconteça, mas não será o fim. Erguer-se-ão povo contra povo e reino contra reino; haverá terremoto em vários lugares, haverá fome. Isso é o princípio das dores.
—Sereis açoitados diante de reis e magistrados por amor de mim. Irmão entregará irmão e os pais seus filhos, enquanto estes os denunciarão sem clemência. . . Mas antes deveis proclamar a Boa Nova a todas as nações.
Silenciou por um pouco, novamente, diminuindo a gravidade da narrativa.
Ele antevia as desgraças da irradiação atômica e da fissão nuclear, das guerras de extermínio recentes.
As terríveis epidemias medievais e os truanescos conflitos de raças e de religião eram detectados desde então.
Percebia a alucinada carreira armamentista das atuais grandes Nações, sonhando em tornar a lua uma base para disparar mísseis.
As grandes trevas que dominariam o Sol, quando se ergueram os cogumelos das explosões atômicas, atemorizando o mundo e marcando vidas com sinais irreversíveis da contaminação nuclear, eram previstos naquele momento.
Também descortinou a queda de estrelas sobre o planeta em treva - os Espíritos de Luz que vieram preparar a Era Nova e instalar o reino de Deus. . .
" - Então vereis o Filho do Homem em toda a Sua glória, pairando acima dos escombros e coroando os justos com a paz. O que vos digo a vós, digo-o a todos. Vigiai!
Anunciados os torpes acontecimentos que visitariam a humanidade dos tempos futuros, Jesus envolveu os discípulos ingênuos em uma onda de ternura e confiança, asserenando-os com palavras de estímulo e fé.
A fé rutilante, vivida integralmente, conduz com equilíbrio e poupa a criatura da desnecessária aflição, mesmo porque luariza a alma, equipando-as de energias e forças para operar as ocorrências dilaceradoras.
Perseguindo os ideais de enobrecimento, o homem supera-se a si mesmo e arrosta quaisquer consequências infelizes com ardor, sem dar-se conta do preço a pagar pela honra de imolar-se, dos testemunhos a enfrentar pela felicidade de ser fiel.
Jerusalém cobria-se de sombras lentamente, e as estrelas coruscavam de longe, enormes como gigantescos crisântemos de luz, enquanto o silêncio da natureza era musicado pelas onomatopeias.
Contemplando a cidade, orgulhosa e infeliz, adormecendo, Jesus e os Seus avançavam no futuro e anteviam a Jerusalém libertada nas almas, sem construções suntuosas de pedra, que o tempo derruba, nem opulência, que perde o valor na sucessão dos evos.
Na memória dos séculos estão as ruínas do grandioso Templo, quase imperceptíveis em Jerusalém, que o Mestre previu desaparecer.
Das famosas oliveiras do monte fronteiriço, após a devastação determinada por Tito, que as derrubou, para transformá-la em cruzes, restam apenas três, atormentadas e retorcidas como os povos que ali têm passado até hoje. . .