Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido.
Em análise pela Psicologia Profunda, o texto de Jesus impõe reflexões graves, convidando o servidor do Bem à ação sem descanso, após a decodificação do seu enunciado.
Para que a saúde seja restituída aos enfermos, tornar-se-lhes necessária a radical transformação moral, porquanto do Espírito procedem todas as manifestações orgânicas, emocionais e psíquicas. Aquele que empreende a tarefa de ajudar no processo da saúde, trabalha os painéis do ser, auxiliando-o a recuperar o equilíbrio interno e o refazimento de conduta, por cujos comportamentos adquire harmonia perante as Leis Soberanas da Vida.
Por isso, Jesus se refere à possibilidade de ressuscitar os mortos, despertando todos aqueles que se cadaverizam no erro, havendo perdido contato com a existência, por estarem mergulhados nas sombras da ignorância e da criminalidade, nas quais exaurem as forças vitais e entram em decomposição moral. . . Por outro lado, pode-se entender também aqueles que foram vítimas da morte aparente pela letargia ou catalepsia, à Sua época consideradas como término da existência física. A morte real ocorre quando o tronco encefálico deixa de funcionar, dando início à desencarnação, cujo processo pode prolongar-sepor tempo que corresponda ao estado evolutivo e de apego ou não do Espírito ao corpo.
Ocorrendo esse fenômeno biológico, não mais é possível o retorno àquele corpo carnal, porque violentaria as próprias leis que regem a vida nas suas mais variadas expressões.
Por outro lado, em face da dificuldade de diagnóstico profundo em torno das dermatoses muito comuns em todas as épocas, muitas delas foram sempre confundidas com hanseníase, cuja recuperação exige todo um processo de reorganização celular e eliminação do bacilo que lhe produz a degenerescência.
Igualmente, adaptando-se a linguagem do Mestre à atualidade psicológica, teremos nos demônios os Espíritos ignorantes e perversos, aqueles que são responsáveis pelos transtornos emocionais e psíquicos bem como fisiológicos de quantos lhes padecem a instância morbífica, infelicitadora.
Falando a pessoas mergulhadas em sombra densa, fazia-se necessária a utilização de linguagem correspondente ao entendimento, através do qual permanecessem as lições inconfundíveis do Psicoterapeuta por excelência, vencendo os tempos e sendo atuais em todas as diferentes épocas do pensamento.
Não obstante, para que todos esses processos de recuperação se fizessem factíveis, uma condição tornava-se necessária: Dar de graça o que de graça se havia recebido. Desta forma, a faculdade espiritual encarregada de produzir resultados saudáveis obedece à ética da dignidade que confere à energia curadora as ondas benéficas que podem propiciar o retorno do bem-estar, do equilíbrio, do refazimento.
Médiuns são todas as criaturas, em diferentes graus, porque todas possuem recursos que facultam o registro do psiquismo daqueles com os quais convivem no corpo, como daqueloutros que já transpuseram a barreira carnal e se encontram despojados da matéria. Naturalmente, destacam-se as pessoas que a possuem mais ostensivamente, produzindo fenômenos vigorosos que não podem ser confundidos com manifestações do inconsciente, nos seus vários aspectos, nem tampouco com o acaso, em razão de repetirem-se amiúde. Os Apóstolos igualmente eram portadores de mediunidade, como o demonstraram por diversas vezes, particularmente no dia de Pentecostes, quando foram alvo da admirável xenoglossia, comunicando-se com os presentes nos respectivos idiomas que lhes eram familiares, assim demonstrando a interferência do Espírito sobre a matéria e advertindo para os chegados tempos da imortalidade em triunfo. Mais tarde, e durante toda a existência, exerceram-na com grandiosidade e abnegação, deixando rastros luminosos por onde passaram, graças a cuja conduta arrebanharam multidões para o Evangelho nascente.
Renunciando a qualquer interesse pessoal, demonstravam a qualidade da Boa-nova, convocando necessitados de luz para que participassem do banquete espiritual que lhes estava sendo oferecido.
Fortemente vinculados a Jesus, n'Ele hauriam as energias necessárias para os cometimentos das curas físicas, psíquicas e principalmente morais, conduzindo todos quantos se beneficiavam ao encontro do Si, libertando-se do ego perturbador e iluminando o lado sombra, que antes neles predominava.
A autêntica doação, firmada no desinteresse pessoal, constituía lhes o sinal de união com Deus, a demonstração de que trabalhavam para o êxito do Bem no mundo, ante a certeza dos resultados da ação após a disjunção molecular.
Os Espíritos Nobres, que os assessoravam, jamais aceitariam o nefando comércio monetário ou de benefícios materiais em favor dos que neles confiassem, beneficiando-se antes que servindo, aproveitando-se das faculdades mediúnicas para o lamentável intercâmbio de valores terrenos, que atraem os incautos e fazem sucumbir os ambiciosos que se perdem nas lutas infrutíferas dos triunfos do mundo. . .
Para viverem, trabalhavam, porque não desejavam ser pesados na economia social da comunidade, nem aproveitar-se para explorar aqueles que os amavam e neles se alimentavam espiritualmente, dando as lições mais eloquentes de grandeza moral e de verdadeira fraternidade, que a ninguém explora ou submete aos caprichos perniciosos da transitoriedade carnal. Ainda hoje, assim deve ser a conduta de todos quantos anelam pela Realidade, mergulhando no mundo íntimo em busca da legitimação dos seus valores espirituais.
A mediunidade é conquista moral e espiritual que jamais privilegia sem que haja uma retaguarda de esforço pessoal e de realização dignificadora. Os perigos a que se expõe aquele que a exerce, constituem-lhe o grande desafio, a fim de que possa ascender, superando-os a pouco e pouco, enquanto sublima os sentimentos e corrige as anfractuosidades morais, trabalhando as aspirações íntimas que se devem elevar, facultando-lhe real felicidade e alegria de servir.
Quem realmente se dedica ao Bem, e o faz com gratuidade, experimenta incomparável júbilo, que se expressa mediante a felicidade de poder doar ao invés de receber, ajudar antes que ser beneficiado. . .
Ricos, portanto, dos tesouros da bondade e da abnegação, esses obreiros da solidariedade, através da mediunidade ampliam os horizontes da vida além da tumba, trazendo de volta ao convívio humano aqueles que se acreditavam haver morrido, mas que estuam de alegria ou sofrem as consequências dos atos a que se entregaram. Se infelizes, encontram-se, não obstante, amparados pela esperança do refazimento e da conquista de outros valores mais significativos do que aqueles a que se aferraram e os levaram ao naufrágio existencial.
O ser real, perfeitamente sintonizado com as Fontes geradoras da vida, plenifica-se e engrandece-se, contribuindo de forma decisiva pela edificação da sociedade melhor, mais justa e mais ditosa do que a que tem vivenciado no processo de evolução no qual se encontra.
Harmonizado com o Bem, as forças morais geram energia curadora que altera a mitose celular, agindo nos fulcros do perispírito e recompondo-lhe a malha vibratória, a fim de que o organismo se beneficie e se refaça. Sintonizado com as Esferas superiores recebe as vibrações compatíveis com as necessidades dos pacientes e imprimem-nas nos seus fulcros energéticos, alterando o comportamento fisiológico que passa a ter novos dimensionamento e reorganização. Concomitantemente, a renovação moral do enfermo faculta-lhe a fixação das energias saudáveis que irão trabalhar-lhe o ser, proporcionando-lhe bem-estar e paz.
Por isso, jamais a mediunidade poderá transformar-se em profissão sob qualquer pretexto conforme se apresente. A Lei que vibra em toda parte é a do trabalho, da conquista do pão com o labor digno, pessoal, intransferível. . .
Exteriorizando harmonia moral e equilíbrio espiritual, os médiuns assim constituídos conseguem expulsar os Espíritos perversos que neles veem verdadeiros exemplos de renovação, tornando-se-lhes modelos que podem ser seguidos, porque propiciam paz e felicidade; enquanto aquele que explora em nome da mediunidade, justificando-se ociosidade e oportunismo, atrai Entidades semelhantes que se lhe associam e passam a explorálo, vampirizando-o mais tarde sem qualquer complacência.
No seu severo discurso, igualmente rico de esperanças e consolo, Jesus adverte que concede a todos aqueles que O sigam sinceramente, os tesouros da transferência de saúde e paz, ressuscitando-os do túmulo da ignorância e do sono pesado a que se entregam, tornando-se fonte de luz, desde que o façam, cada um dando gratuitamente o que gratuitamente haja recebido.