Enquanto a disputa pela conquista dos valores sem-valor comanda o desequilíbrio que se generaliza entre os homens; ao tempo em que a criatura se arremessa, desvairada, na corrida do prazer a fim de se não sentir marginalizada; não obstante a sofreguidão com que os indivíduos se vêem a braços de modo a lograrem posição e relevo no cenário social; embora a fascinação pelo brilho dos primeiros lugares na ribalta das atividades com que se desajustam muitos seres, convém recordarmos a excelência da renúncia como terapêutica de alta urgência para a saúde física e mental dos que aspiram à paz e ambicionam a perene alegria. . .
Renúncia num exame apressado pode parecer cobardia ou significar amolentamento de caráter.
Considerando-se que é muito mais fácil a derrocada na competição das paixões animalizantes em que apenas predominam as potencialidades do instinto, a renúncia, que significa requisito moral, dificilmente logra entendimento ou aceitação.
Todavia, possuidor é aquele que cede.
Mordomos transitórios do que nos passam pelo caminho: corpo, bens, objetos, valores, somente permanecem imanentes os tesouros inapreciáveis que dimanam das fontes geratrizes do espírito: amizade, amor, perdão como títulos de caracterização legítima de cada ser e de todas criaturas.
Renunciar, todavia, não é abandonar a causa ou ideal, antes contribuir de modo eficiente para o bem geral, sem a ênfase da egolatria.
Renunciando, Jesus conseguiu modificar o estado social da Humanidade, desde a sua hora e o seu dia, facultando ao homem a perfeita identificação entre os valores reais e os transitórios bens a que se dão valor e logo se consomem.
Face a qualquer situação ou em qualquer circunstância litigiosa em que as ambições se empenhem, danosas, reflete e renuncia, liberando-te da canga constringente da ambição desvairada, porquanto as conquistas que facultam a paz, como enuncia o Evangelho, em relação ao Reino de Deus, não vêm com aparência externa.