Vida além da vida

Capítulo IV

“Encontrando dois amigos”



Querido papai Lineu e querida mãezinha Elza. Estou presente com o meu avô Aristides, () como quem assina o livro de ponto da saudade.

Estamos sempre juntos, no entanto as palavras escritas guardam a função de materializar-nos na união de sempre.

O tempo corre mas os nossos sentimentos se assemelham às pirâmides, que não se transfiguram com o vento forte.

Tenho estado sempre que possível na fazenda, onde os benfeitores da Vida Maior me consentem agora permanências mais longas já que o meu restabelecimento geral caminha para o final em passos rápidos. Ali posso rejubilar-me com os espetáculos da Natureza sempre mais linda, onde a aflição urbana ainda não chegou com as inquietações que lhes são características. O céu na fazenda é mais azul, o campo é mais rico e meu pedaço, dedicado especialmente à soja, me faz pensar no devotamento de nosso prezado Saturnino () que tudo faz, com o papai Lineu, para que os meus desejos, expressos há muito tempo, sejam cumpridos.

Pai, tenho motivos para imaginar que a soja alcançará posição especial em nosso país e no mundo. Posso conscientemente registrar uma experiência pessoal que realizei, procurando fatores nutrientes na soja, através do olfato, havendo encontrado, em mim próprio, sensações de reconforto e saciedade que me fizeram grande bem. Imaginei, para logo, o que não fará a ciência de amanhã dessa planta preciosa, que se fará uma central de alimentos diversos para o homem do futuro. Do que tenho visto na Terra, mesmo com a minha inexperiência em botânica, vejo a soja como sendo uma preciosidade, que o nosso século apenas começou a descobrir. [Vide Ez 34:29]

Tenho ido a Ituverava, sempre que as circunstâncias me favorecem e desejo contar-lhes que em companhia do meu avô Aristides, num passeio a dois, para sentirmos de perto a grandeza do Salto Belo, () fomos ambos até lá, encontrando dois amigos que a avô Aristides me apresentou com alegria. Amigos de tempos passados, mas presentemente vivos; no presente que consubstancia a vida em si mesma, nos seus movimentos próprios. Estavam ali, qual ocorria a meu avô e a mim, contemplando a queda límpida e brilhante. O vovô Aristides mencionou-lhes os nomes, depois de abraçá-los: Coronel Augusto Sempliciano Barbosa () e Capitão Antônio Jacinto de Freitas. ()

O Coronel fixou-me com bondade e explicou: “— Meu filho, não se atenha aos títulos, que não mais nos pertencem. Isso já passou. Somos apenas seus irmãos.”

Meu avô sorriu mas declinou-lhes a posição de fundadores de nossa cidade, em visita de carinho e admiração pelo progresso que a cidade hoje ostenta.

A nossa conversação foi amena e longa e, ao retirar-me, muito grande foi o meu anseio de comentar o encontro com a vovó Joana e com a nossa estimada Luciana, mas isso foi obviamente impossível, porque não seria eu quem poderia quebrar as dimensões vibratórias em que vivemos atualmente.

Tenho porém a satisfação de dar-lhes ciência do acontecido porque o papai Lineu poderá arrancar dos arquivos os nomes dos cavalheiros a que me referi.

Mãezinha Elza, peço-lhe dizer à vovó Joana e à Luciana, tanto quanto aos amigos de Ituverava, quanta saudade experimento em relação a eles todos.

Falando em lembranças aos corações queridos, peço-lhes permissão para encerrar estas minhas notícias, atentos que devemos estar à festividade que esta casa amiga realiza, em homenagem a um jovem, o jovem Augusto Cezar, () que se fez um herói de compreensão e bondade humana, depois de sua volta da vida física para a vida espiritual. Admiro a plêiade entusiasta de jovens que temos pela frente e, ao sentir-lhes os ideais de evangelismo e renovação, creio no Brasil melhor que se encontra em abençoada gestação.

Queridos pais: com muito carinho aos nossos de Ituverava e Campo Grande, peço-lhes receber as saudades do filho reconhecido,


28 de setembro de 1986.