Florações Evangélicas

CAPÍTULO 2

PRESENÇA



E Ele veio! Multissecularmente aguardado como a esperança de Israel, ei-Lo que surge no período em que a História repete as glórias de Péricles e o pensamento cultiva as belezas, conquanto a barbaria comandasse homens e governos, estabelecendo um marco novo para a contagem das Idades em relação ao porvir. Não que os tempos fossem diferentes. Herodes, na sua jactância, não passava de subalterno áulico de César, guindado à posição de relevo graças à impiedade de que se fazia instrumento. A política de dominação, em toda parte, estabelecia a exploração do homem pelo homem e a opressão da força em detrimento do direito. A sociedade desvairava e o valor do homem eram as suas posses transitórias. As ambições se avolumavam traçando as diretrizes do poder e estiolavam as mais nobres florações do sentimento. . . As artes e a cultura, porém, desabrochavam nesses dias, ensejando maiores ideais na capital do Império que exportava conceitos de paz e beleza não obstante o clangor da guerra e o aríete das arbitrariedades. . . . . . E Ele veio! A Sua presença assinalou de paz o período da nova Era. Não a paz externa, lavrada em audaciosos conciliábulos e sustentada pela usurpação do crime: Era uma aragem de ventura que penetrava os Espíritos e os pacificava interiormente, predispondo-os ao amor. Seu verbo manso e ameno, marchetado da severidade que dimana do conhecimento da Vida e da Verdade, modificou a estrutura do pensamento filosófico e social, desde então traçando nova pauta para as criaturas do porvir. Perseguições e calúnias — miasmas dos pequenos homens de todos os tempos — não Lhe diminuíram a grandeza do ensino nem a elevação do serviço. E mesmo crucificado não foi vencido. . . Submisso pela humildade excelsa nunca apareceu alquebrado, curvado ante os contemporâneos. Ereto esteve na Cruz, donde partiu para a Pátria Verdadeira, incitando-nos a segui-Lo.
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Ainda hoje Jesus é a esperança que se tornou realidade. Israel desejava um Rei arbitrário e vingador. A Humanidade tentou fazê-Lo dominador e cruel através dos séculos. Israel aguardava e ainda espera um Enviado implacável no seu ódio de raça e de ambição. A Humanidade procurou torná-Lo senhor de todos, esmagando os insubmissos e rebeldes. . . Hoje também ainda é assim. Jesus, porém, nestes dias de inquietação e desassossego, é a esperança que domina os espíritos e a paz que penetra os corações. O homem subjuga o homem, os governos se entrechocam no domínio das armas, a fome ameaça e dizima milhões de vidas cada ano, as enfermidades espalham pavores, a escassez de amor enlouquece, no entanto, neste clima sócio- moral da atualidade, Jesus retorna e convida a outras cogitações. Canta um novo e permanente Natal no burgo das almas da Terra que O esperam. Estado interior, Jesus é comunhão de alma para alma a emboscar-se nos homens confiantes. O Cristo amansa as paixões e suaviza as Inquietações da vida, fixando naqueles que O conhecem os caracteres iniludíveis da Sua presença.
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Sentindo a mensagem d’Ele no espírito que agora se volta para as coisas elevadas da vida — após o cansaço e o desgosto das investidas infrutíferas na vivência da ilusão — não te permitas contaminar pelos fluídos maléficos destes dias turbulentos. Movimenta os braços e atua na ação enobrecedora a benefício dos que sofrem. E, se ao te reclinares ao leito estiveres assinalado por alguma dor ou desencantado por qualquer afronta, mergulha o pensamento na mensagem d’Ele e busca escutá-lo no coração. Fazendo o necessário silêncio interior, ouvirás a Sua voz em acalanto de ternura e alento, encorajando-te para prosseguir, constatando que em verdade Ele veio e demora-se ao teu lado, esperando, hoje como ontem, que o mundo moral da Terra modifique o seu clima e haja paz perene entre todos os homens, através dos teus sacrifícios desde agora.


“Segui-me, e eu farei que vos torneis pescador es de homens".

(Marcos 1:17)


“Mas o papel de Jesus não foi o de um simples legislador moralista, tendo por exclusiva autoridade a sua palavra. Cabia-Lhe dar cumprimento às profecias que Lhe anunciaram o advento; a autoridade Lhe vinha da natureza excepcional do Seu Espírito e da Sua missão divina".

(O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Capítulo 1º — Item 4)